domingo, 12 de abril de 2015

As princesas do Para Sempre

Hoje escrevo para todos os olhos que não se fecham sem um suspiro de Boa Noite. Para quem cresce com os sonhos de uma árvore, presa à Terra mas grande como o pensamento.
Para todos os sorrisos sem dono, para os corações que não dormem e esperam sempre. Ali,no mesmo sítio e à mesma hora.
Para as que não perdem de vista a esperança, para quem acredita que o mar afinal não acaba ali e que nada acaba aqui.
Para todas as lágrimas caídas no fim da estrada percorrida. De alegria. De alívio ou de dor. E tantas vezes dói. Eu sei que dói. Para todas as que acham que morrem na praia. Nunca se morre na praia. Apenas nos é mostrado que não é por ali.
Para as duronas de serviço, que são as primeiras a abraçar a almofada. As que estão prontas para o que der e vier, armadas de defesas até aos dentes e que no fundo só querem um jantar à beira-mar.
Para todas as caras coradas que nunca tiveram um pequeno-almoço na cama, não mudam as flores da jarra para não verem espaços vazios. Para as que guardam os bilhetes de cinema, naquela bolsinha do meio ou no lugar das notas.
Para todas as princesas sem coroa, que sabem com quantos quilates se cobre um desejo. Para as pequenas estrelas que todas nós temos e que nos borramos de medo que nem sempre brilhem.
Para todas as que vêem um herói de capa e espada a caminho, demore o tempo que demorar. Para todas as que já não acreditam que ele chegue, mas que ainda suspiram com a ideia.
Para todas as que sabem o valor de um beijo, da carta nunca escrita ou das desculpas que nunca chegaram ou chegarão.
Ás que sonham dançar à chuva ou no meio do nada, puxadas por um qualquer desconhecido.

São estas as princesas do Para Sempre, seja qual for a duração do sonho, da ilusão, da utopia.
Porque em cada Sempre existe um aperto no peito, um desejo de Que Seja Agora.
Em cada Sempre há um Para Sempre que guardamos cá dentro, na gaveta do Até que Enfim.


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Do Teatro, com amor.

Sempre achei que quando Deus distribuiu a expressividade e a emoção, eu me pus três vezes na fila. Exagerei. Podia ter ido só uma, mas teimosa como sou, tinha de fazer diferente...pois claro. Quem me conhece, sabe que quando me rio, o faço sem filtro e com todos os tremeliques a que tenho direito. Quando me enervo, excedo o meu limite numa fracção de segundos: dá-me forte e desaparece ainda mais depressa. Quando choro, é a vergonha total. Ela é soluços, ela é ranho que vai parar à boca e coisas assim nojentas. Quando me espanto ou me admiro, rebento a escala das expressões crédulas mais parvas de sempre: consigo misturar o "naaaa, não acredito" com uma espécie de "F***-se!" ou "Eiiiiiiiii". Mais ou menos isto, vá. E os sustos que apanho só porque sim? Assusto-me com alguém que já lá estava e eu nem dei conta, com uma campainha, uma buzina ou um simples "buhhh".
No meio disto tudo, há a gavetinha das paixões, porque até no gostar eu sou intensa...Nela está aquela que já toda a gente sabe, o Teatro. Não me lembro quando comecei a vibrar com as milhentas hipóteses que todos nós temos de nos levarmos ao limite. De sentir, de permitir sentir. Deixar que a noção de onde começámos e terminámos se perca pelo meio.
Quando decidi frequentar Teatro, decidi escolher-me a mim em primeiro lugar. Por pura paixão. Fi-lo numa altura de grande mudança pessoal, de mares mais agitados que o Deus me livre. Quando escolhi ser eu o amor da minha vida.
Entre exercícios de improviso, jogos de movimento e memorização, virei-me do avesso. Corei. Tremi de nervos. Bloqueei. Travei-me. Ri-me em alturas inconvenientes. Mas senti tudo isso.
Percebi que o medo pode ser o meu melhor amigo, que me empurra para o que tem de ser. Seis meses depois, texto final escolhido e pronto a ser trabalhado.
"Nós não somos a personagem, somos sempre nós...nas pantufas da personagem". Agora sim, let the show begin!