Ter o Porto a correr nas veias, é ter a mão na cintura. De forma firme, mesmo que o sangue esteja a borbulhar. Mesmo que os olhos se encham de água, que o coração não páre quieto um segundo. É levantar a cabeça e cair outra vez. É cair terceira, cair quarta e não ter medo da quinta. E levantar de todas essas vezes e ainda assim morder o lábio com a audácia de um miúdo que sabe o que quer.
É não temer o poder de um beijo, de uma mão na perna, de um suspiro no ouvido e de uma paixão que arrepia. Da tentação ali à porta e ainda assim não fugir de nada.
Ser do Porto é um carimbo ou um ADN. É impossível não sermos um conjunto de Rio Douro a abraçar a Ponte D.Luiz, as Fontainhas a namoriscar a Ribeira, o Piolho a beliscar a Fonte dos Leões; as praias, o Surf que adoramos ter só porque o mar ali é tramado e tem a mania que assusta com as ondas; somos o Estádio do Dragão, a Casa da Música e o cheirinho das Caves do Vinho do Porto; a vida académica, a praxe e as tunas; a Rua de Santa Catarina e a das Galerias e as centenas de bares que abrem e fecham à medida que o Porto vai ganhando ou perdendo popularidade; somos os encalorados que enchem as ruas todo o ano, que falam com toda a gente e não conhecem metade (mas se estão ali, são bem vindos); são os hostels e o D. Henrique; a Avenida dos Aliados e os Clérigos; a Sé, a Gastronomia; somos Serralves e o Parque da Cidade; somos a magia do S.João e a loucura da Queima das Fitas.
Ser portuense é ir até ao fim. É estranhar, é entranhar. É rir de tudo e a qualquer hora. É saltar a tampa por "dá cá aquela palha", é mandar os problemas para um sítio que todos sabemos. É saber que pode correr mal e ir na mesma. É perder a noção do medo e o "parece mal". É comprar uma guerra em prol de uma convicção. É receber. Receber e receber. Só porque sim.
É misturar o cheiro da sardinha como quem se bronzeia na praia. É cantar desafinadamente no meio da rua e oferecer o resto da cerveja a quem está a passar.
É não perder um bailarico. Não deixar de aumentar o volume do rádio. É aturar quem nos acha cinzentos e sempre com chuva, enquanto estabelecemos um mapa mental em como os mandar à merda.
É acabar um arraial na praia, com a típica fogueirinha. É o não gostar de multidões e sentir-se estranhamente em casa.
É sermos duros na queda, é virar o mundo do avesso se acharmos que vale a pena. É querer ter a mania que somos maus, que assustamos.
Somos bairristas, não deixamos passar o que magoa. Será que serve igual?
É bater o pézinho com músicas brejeiras e trocar as letras todas.
Em cada metro de Ponte há uma vontade de ser o que se é e pronto. Em cada pedra da calçada, há um pregão do Bolhão.
Em cada São João há um pouco de nós. Um João são, que no ir e voltar, nunca vira costas. Estando longe ou perto.
É gostar assim...gostar a sério. De dentro para fora.
Gostar a sério é muito bom mesmo! Adorei o texto!
ResponderEliminarBeijinhos, amiga portista!!!
Portista e Portuense, "fáxabôr" ;)
EliminarBeijinhos
E são assim as festas Sanjoaninas! Despertam paixões, emoções, foliões e outras rebeliões. Deixam de existir classes sociais! Todos se juntam nas marteladas nas risadas e caminhadas. Nesta noite em que até o rei vai nú!
ResponderEliminarBoas marteladas!
Aiiiiii também quero! Tenho saudades disso tudo...
EliminarEu adoro a malta do Porto (e do Norte em geral). Porque são, de facto, genuínos. E adoro aquela pontinha de politicamente incorrectos ;P
ResponderEliminarTemos falta de travão na língua, mas ao mesmo tempo, falamos com o coração :)
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