Despedidas

Não gosto de despedidas. Nunca gostei e acho que nunca gostarei.Sei que faço parte de um grupo generosamente grande e sei que é mais comum do que qualquer outra coisa. Mesmo assim, prefiro ter oportunidade de falar do que fingir que não é importante e relativizar a toda a força, o sofrimento que um Adeus pode causar.

Faz hoje um ano que falei com o meu avô pela última vez. Foi um monólogo, de segundos, antes de me desfazer em lágrimas e de ficar com a voz presa.Foi uma Terça-Feira, estava sentada no sofá da sala e decidi ligar à minha prima que sabia que estava ao lado dele, na cama do Hospital. Meu avô estava com cancro no estômago, que felizmente foi rápido e quase indolor. Já estava internado há duas semanas e foi, aos poucos, perdendo as capacidades da fala e dos movimentos. Nessa Terça já não falava, já não pegava no telemóvel. Ouvir sei que ouvia, porque quando ouviu a minha voz, gemeu e deu sinal de que (ainda) estava ali. Lembro-me que só disse "'Vu' estás-me a ouvir?'Vu', é a Vânia!Um beijinho!"- e foi isto. Fiquei tão entupida que nem consegui dizer que o F.C.Porto dele estava em primeiro. Sei que ele me reconheceu e sei que sabia que eu estava longe e que tinha de estar.
Morreu três dias depois a 25 de Novembro. Nunca mais o ouvi, mas sei que ele me ouviu.

Dia 4 Novembro foi o dia em que eu soube da doença. Ele, não sei se chegou a saber o que tinha. Dizem que a alma tem um peso: 21 gramas.
E 21 dias depois, havia menos 21 gramas na minha vida.
Onde estás não tens computador e mesmo que o tivesses, não saberias mexer nele. Ofereceste-me o meu primeiro,lembras-te? Nunca saberás o que aqui digo, mas sei que sabes que te agradeço infinitamente tudo o que me deste. De ti herdei as lágrimas fáceis, a cor pálida e os olhos em bico.
As saudades vieram depois.