quinta-feira, 1 de novembro de 2012

E quando não há mais do que isso?


É fácil dizermos a alguém aquelas frases bonitas e feitas de propósito para caírem bem, nas alturas perfeitas: "Vais conseguir!" "Amanhã é outro dia!" "Não há mal que sempre dure...", enfim. E de um modo geral todos gostamos de ouvir. E por uns segundos ou minutos, até parece que surtem efeito.

Não me lembro se já aqui vos falei da minha profissão e do dilema que muitas vezes isso me traz. Nunca quis ser educadora, mas vim cá parar por uma ou outra afinidade, talvez fosse esse o grande papel da minha vida. Digo isto, porque quem me vê nesta tarefa diz que me cabe que nem uma luva. E eu sorrio. Agradeço. E pergunto com um ar de espanto "A sério??".
Talvez porque disfarce bem tudo o que muitas vezes me assombra. Mal elas sabem que tantas e tantas vezes tenho vontade de fugir daquela sala. Mas só ás vezes. Há alturas em que definitivamente, me passa tudo e acho um privilégio estar ali.

Este ano tenho 17 crianças, prestes a serem 19 sob a minha alçada, e estou no meu oitavo ano lectivo. Continuo com a mesma ideia que não quero fazer isto o resto da vida, mas acredito que o irei fazer. Gostava de ser daquelas educadoras que adora o que faz e é plenamente apaixonada por tudo o que isso envolve. Mas sou humana, tão drasticamente humana, que também me canso, levanto a voz, franzo a sobrancelha e me penalizo por não ter seguido outros caminhos.
Sem falar daqueles amigos que perguntam "Então para quando o bebé?"- mas estão a falar a SÉRIO???!
Ultimamente não estou com as melhores vontades quando acordo para ir trabalhar, fico irritada com mais facilidade e apetece-me mudar de rumo, como tantas vezes já fiz. E é aí que percebo que o percurso que fiz teve e tem peso em mim. E nunca sou capaz de ir embora, de desistir. Desta vez não!
Sei que lhes passo coisas boas. Sei que sou boa no que faço e tenho que ver para além do que os dias me dão. Sei que há coisas boas e más, que o sol não vem sempre e que o optimismo lidera qualquer dissabor.
Isso deveria ser suficiente.

E quando não há mais do que isso?

5 comentários:

  1. Embora eu seja dessas pessoas que diz que a profissão de educadora te assenta como uma luva, compreendo as tuas inquietações e posso-te dizer que por vezes penso o mesmo relativamente à minha opção profissional. Há sempre uma diferença radical entre sonhar com uma profissão - ou vocação - acreditando que fomos feitos para ela, e a experiência diária, concreta, rotineira dessa profissão. Sobretudo, precisamente, quando o espaço que nos é cedido é estreito, e temos precisamente de sacrificar a nossa "vocação" à mera "profissão". Entendo o teu desencanto, acredita que sim. É um desencanto relativamente à função em si, mas não me parece que esse desencanto relativamente à função que tens de "vestir" todos os dias implique necessariamente que não tenhas vocação para educar. És sensível, paciente, criativa, de uma simplicidade e jovialidade que cativa. Infelizmente, há pouco espaço para a revelação, para os afectos e para a alegria da criação. Está tudo estandardizado, determinado, espartilhado em limites que dia-a-dia, sem que nos apercebamos, vai matando em nós essa chama de amor e criação. Para teu bem, não te deixes abater. Acredita sinceramente que melhores dias virão. Tu mereces. Beijos

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  2. Acho que SO podias ser o que es. Nem mais nem menos. Vi-te e senti-te. Es como"o algogao que nao engana".
    E.... adoro ler-te!. Bjs

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  3. Partilho muitas vezes do teu sentimento e tenho neste momento a oportunidade de mudar de rumo mas igual a ti sei que nao o farei terminamos sempre por seguir esse mesmo caminho apesar de sentirmos que nem sempre era o nosso destino, acredito como tu que o que passamos dentro dessas 4 paredes muitas vezes nos supera e nos faz sentir completas ao ser educadoras! Sao fases acredito que que o nosso destino esta tracado e que so somos o que somos porque fazemos o que fazemos um beijinho grande

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  4. QUE PALAVRAS SENTIDAS...SOMOS AQUILO QUE FAZEMOS MAS TAMBÉM SOMOS MAIS DO QUE ISSO...ACREDITO QUE NÃO TEMOS NECESSARIAMENTE DE AMPUTARMOS PARTES DE NÓS...O DESAFIO PARECE SER ENCONTRAMOS DIVERSAS FORMAS DE NOS EXPRESSARMOS EM DIFERENTES CONTEXTOS SEM SUBLIMARMOS TUDO NA NOSSA PROFISSÃO E OLHA QUE EU FALO NA PRIMEIRA PESSOA SOBRE O ASSUNTO...GOSTO TANTO DE TI E ACREDITO EM TI.

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