domingo, 11 de janeiro de 2015

Morto, morrido e matado.

Há uma dúvida que me assombra de vez em quando: Quando duas pessoas que se amam terminam, para onde é que vai o amor? E as que já não se amam? Onde é que fica o amor ou onde o deixaram acabar? Quem é que guarda ou destrói? Onde meteram elas o amor? E o desejo pelo desejo, quando é consumado, desaparece? Se desaparece, vai para onde?
Quando uma pessoa morre, deixa para trás tudo o que lhe pertenceu e cada um escolhe no que acreditar. Uns acreditam no céu, outros no inferno, outros acreditam que a pessoa está simplesmente debaixo da terra e outros não acreditam em absolutamente nada. Mas existe uma opção, existem vários cenários possíveis. No amor não. O amor acaba e deixa de se falar dele. O amor acaba e não há céu, nem inferno, nem falecido nem adormecido. É nada. Torna-se algo do qual não se fala, do qual se foge para não magoar. E passado uns anos vamos-lhe esquecendo o gosto e os traços, como esquecemos aquelas pessoas que conhecemos nos casamentos dos amigos dos nossos pais ou nas férias de Verão.
O amor quando separa as pessoas fica a pairar no ar. Ninguém o reclama, ninguém o olha. Fica nos perdidos e achados na vida, que ninguém sabe onde são. Numa espécie de limbo amoroso. E quando já não há amor...para onde foi ele?
Há quem mate o amor e fique para o ver partir. Há quem o vá matando com mentiras, com descuido, há quem o vá matando a discutir e com silêncio. Há quem o mate, e assim que o amor morrer, larga-lhe da mão e parte. Fica morto, morrido ou matado? Há tantas formas de desprogramar o coração.
Escolhemos um lugar para as coisas. Mas e o amor? Guardámo-lo onde? Cá dentro? E a paixão? Será uma irmã bastarda do amor. Fica escondidinha ou camuflada, só a servir de primeiro patamar, prestes a apimentar o amor que fica...cá dentro, talvez.
Se calhar é isso. Se calhar quando se termina com alguém apesar do amor, o amor fica cá dentro. Arrenda um quarto pequeno no nosso corpo. Ninguém passa recibos e ninguém toca à campainha. É um vizinho silencioso que não nos lembramos que existe até nos cruzarmos com ele no hall de entrada. Quando se termina apesar do amor,em alguns casos, o amor fica cá dentro. Apesar de custar. Quando duas pessoas terminam o amor fica onde estava. E os pés mudam de direcção e as almofadas também. Mas em algumas histórias ele continua lá. À espera que o ressuscitem, ou o matem de vez naquele lugar das coisas incertas das pessoas que quase foram felizes. Apesar de não estar certo, apesar de não fazer sentido.
E as memórias embriagadas de saudade? Onde ficam elas, quando não podem aparecer? Porque se aparecerem, vão doer. Vão fazer uma espécie de buraquinho a sangue frio. De uma dança ao ar livre, de uma noite perfeita que sabemos que não pode ser igual porque já passou. Pode ser repetida, mas nunca igual. O que fazemos a essa vontade de estar? Fica morta, morrido ou matada?
Vá, digam-me.

(texto adaptado - "Para onde vai o amor?" de Carolina Deslandes)

12 comentários:

  1. Acho que essa foi das perguntas que sempre deixei por responder: para onde vai o amor, quando não é a falta dele que mata uma relação?

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    1. Acho que essa é das poucas perguntas, que nunca terá resposta :/

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  2. Essa é uma pergunta essencial. Eu acredito que o amor se refugia no seu canto. Continua no coração, mas mais protegido, mais na "sua", sem querer aparecer para não sofrer mais daquilo que já sofreu!

    Beijinhos
    (Estou de volta à sala, já tinha saudades)

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    1. Eiiiiiiiiiiiiiiiiiii viva!! Sabes que tens lugar cativo amigo Carpe :)
      Eu também acho que o amor, fica num lugar onde nunca se fecha.

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  3. Um bom texto com uma pergunta realmente intrigante :S
    Para onde vai o amor se muitas vezes relações se desvanecem por ''excesso'' do mesmo!?

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    1. Nesses casos não sei se é o "excesso"...é talvez o passar o limite do espaço do outro. E aí não é amor :/

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  4. Grande texto. E é só o que me apraz dizer neste momento....

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  5. Olá! Tenho estado ausente, mas já vi que a coisa queima!
    Minha princepesca, o amor não se pode esconder ou guardar. Se o amor não for cultivado, morre, azeda! Pode até tornar-se numa coisa desagradável.No sentido em que o amor é relatado no texto, eu chamaria de uma atracção expectante, pelo apreço que atribuiu a um corpo interessante e de quem se espera a química necessária para cultivar esse tal "amor" e que eu chamo de sexo!

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    1. Papi, o texto não é biográfico e foi adaptado. Não fala de guardar o amor numa relação, mas sim, o que o lhe acontece quando as relações acabam!

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  6. Há fluídos que não resistem a determinadas tempestades, e quando falham a química enfraquece e o amor desaparece.
    Morto, morrido ou matado, encontrará outro corpo interessado!
    Beijinhos

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