sexta-feira, 24 de julho de 2015

Último post.

Há três anos nasceste tu. Da minha vontade de escrever só porque sim. De partilhar dias banais, numa mente distraída como só os que me conhecem bem sabem. Foste a minha melhor "criação", se é que lhe posso chamar assim...porque no fundo, foste tu que criaste em mim, espaços nunca dantes vividos.
Dei-te um nome, dei-te um rosto com cor e dei-te a vida em pedaços. Contei-te o que me apaixonou, o que me irritou e o que me feriu. O que me fez rir. Deixei que me lessem aqui, em ti, planos que não tracei. Caminhos que não escolhi. Vidas que não tive. Contei-te abraços que começavam onde a solidão fugia. Levei-te de férias, a jantar e ao Teatro. Mostrei-te em palavras, o que faço com o amor, nos meus dias. Exorcizei medos. Desenhei mil e uma formas de começar do zero.
Aqui pensei em voz alta, sugeri e supus o que me vinha à cabeça.
Falei com a minha avó, com o meu pai e com quem me mostrou uma nova forma de vida. Usei-te para chegar a pessoas cujo nome real nem sei. Mas que quiseram sentar-se aqui. Eu deixei, porque nunca nenhum texto deve ser órfão. Todas as palavras nascem para alguém.
Foste a melhor Sala do apartamento em que se tornou a minha vida. Foste dia, foste noite. Foste o melhor impulso.
Em três anos, tanta coisa mudou. As palavras foram uma espécie de farol para encontrar o que realmente quis: eu mesma.
Houve alturas em que foste o meu melhor amigo e nas quais só nós sabemos as lágrimas que caíram no teclado. Nunca refilaste por isso e eu nunca te agradeci.

Hoje tenho de te dizer que sou tão mais feliz e mais completa por me teres deixado ver-te crescer e chegar a tanta gente. Obrigada por seres o Upgrade da melhor expectativa, por seres o melhor blogue do mundo para mim e por me permitires chegar ao dia de hoje.
Serei sempre "the girl next door" que adora café e troca os sapatos. Serei sempre a menina-mulher que se confessou aqui em dias de chuva e trovoada.

No teu terceiro aniversário, decidi embrulhar-te com a fita mais doce que tenho. Tornei-me mais eu, decidi passar mais tempo longe de teclados e usar as palavras para as dizer pessoalmente a quem quero.
Este é o meu último post aqui. Estou a fazer as malas para continuar a ser feliz e aproveitar o que aqui fui amealhando. E foi tanto, tanto! Mas a minha escrita, tornou-se intensa e demasiado pessoal para poder ser partilhada a qualquer altura.
Obrigada a quem aqui se riu e chorou comigo. Obrigada aos anónimos também, aos que me fazem grata por cada palavra que li. E aos anónimos menos simpáticos e até inconvenientes, cuja opinião podem embrulhar e enfiar num certo sítio. Para vocês, esta linha apenas, que é sem dúvida mais do que alguma vez terão de alguém, certamente.

Aos amigos que fiz e aos meus amigos de sempre, que são os meus melhores leitores...vêmo-nos por aí, noutra Sala. Com o abraço de sempre. Cor de rosa e silencioso :)






quinta-feira, 9 de julho de 2015

Bucket List

Todos nós temos metas. Sonhos. Dias para cumprir vontades. Desejos. Projectos.
Eu sabia e sei que tudo aquilo que borbulha em mim, vai estalar mais à frente. Basta eu ouvir, saber abraçar o meu próprio silêncio e decifrar aquela voz que todos nós temos, independentemente da cor, da religião ou estrato social. Nem todos temos as mesmas oportunidades e também é preciso o factor Sorte. Porque também faz parte.
Eu tive a sorte de me saber ouvir, de ter coragem de não me ignorar e de ter paciência para lidar com as minhas falhas.
Frequentar um curso de Teatro, virou-me do avesso: embrulhei-me e desembrulhei-me vezes sem conta. Contrariei o riso, o choro nos dias menos bons e percebi que a magia só acontece, se sairmos da zona de conforto.
Gosto de Teatro desde que me conheço por gente. Sabia que tinha de passar por ele, nem que fosse a ultima coisa que fizesse. Aos 32 anos, tive o prazer de integrar uma turma espectacular, com quem aprendi mais do que aquilo que consigo dizer. Dia 27 foi o Dia D. O dos medos, dos nervos, do suor em bica, de estar em palco. Só nós, o público e as palmas. Não o fiz sozinha. Nem em cena nem fora dela. Fui e sou uma privilegiada por ter conseguido absorver tanta coisa (e falta tanto ainda...) da professora que tive. Não poderia ter tido outra "mestra". Pela objectividade no discurso, pela organização de pensamento, pela exigência, mas acima de tudo, pela paixão de se fazer o que se gosta.
Tantas vezes me senti pequenina com os jogos e técnicas que fomos fazendo. Tantas vezes quis ficar quietinha, sentada, só a ver o que se passava à volta.
Mas nenhuma dessas vezes, nem uma só, me senti deslocada.
Hoje, a pessoa responsável por me dar a certeza que o Teatro me faz mesmo mais feliz, faz anos.
Ainda bem que cá andas!
Obrigada Carolina Abrantes, já risquei mais um item da minha Bucket List :)

E só por isso, serei eternamente grata!

terça-feira, 23 de junho de 2015

João São

Ter o Porto a correr nas veias, é ter a mão na cintura. De forma firme, mesmo que o sangue esteja a borbulhar. Mesmo que os olhos se encham de água, que o coração não páre quieto um segundo. É levantar a cabeça e cair outra vez. É cair terceira, cair quarta e não ter medo da quinta. E levantar de todas essas vezes e ainda assim morder o lábio com a audácia de um miúdo que sabe o que quer.
É não temer o poder de um beijo, de uma mão na perna, de um suspiro no ouvido e de uma paixão que arrepia. Da tentação ali à porta e ainda assim não fugir de nada.
Ser do Porto é um carimbo ou um ADN. É impossível não sermos um conjunto de Rio Douro a abraçar a Ponte D.Luiz, as Fontainhas a namoriscar a Ribeira, o Piolho a beliscar a Fonte dos Leões; as praias, o Surf que adoramos ter só porque o mar ali é tramado e tem a mania que assusta com as ondas; somos o Estádio do Dragão, a Casa da Música e o cheirinho das Caves do Vinho do Porto; a vida académica, a praxe e as tunas; a Rua de Santa Catarina e a das Galerias e as centenas de bares que abrem e fecham à medida que o Porto vai ganhando ou perdendo popularidade; somos os encalorados que enchem as ruas todo o ano, que falam com toda a gente e não conhecem metade (mas se estão ali, são bem vindos); são os hostels e o D. Henrique; a Avenida dos Aliados e os Clérigos; a Sé, a Gastronomia; somos Serralves e o Parque da Cidade; somos a magia do S.João e a loucura da Queima das Fitas.
Ser portuense é ir até ao fim. É estranhar, é entranhar. É rir de tudo e a qualquer hora. É saltar a tampa por "dá cá aquela palha", é mandar os problemas para um sítio que todos sabemos. É saber que pode correr mal e ir na mesma. É perder a noção do medo e o "parece mal". É comprar uma guerra em prol de uma convicção. É receber. Receber e receber. Só porque sim.
É misturar o cheiro da sardinha como quem se bronzeia na praia. É cantar desafinadamente no meio da rua e oferecer o resto da cerveja a quem está a passar.
É não perder um bailarico. Não deixar de aumentar o volume do rádio. É aturar quem nos acha cinzentos e sempre com chuva, enquanto estabelecemos um mapa mental em como os mandar à merda.
É acabar um arraial na praia, com a típica fogueirinha. É o não gostar de multidões e sentir-se estranhamente em casa.
É sermos duros na queda, é virar o mundo do avesso se acharmos que vale a pena. É querer ter a mania que somos maus, que assustamos.
Somos bairristas, não deixamos passar o que magoa. Será que serve igual?
É bater o pézinho com músicas brejeiras e trocar as letras todas.

Em cada metro de Ponte há uma vontade de ser o que se é e pronto. Em cada pedra da calçada, há um pregão do Bolhão.
Em cada São João há um pouco de nós. Um João são, que no ir e voltar, nunca vira costas. Estando longe ou perto.

É gostar assim...gostar a sério. De dentro para fora.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Os Sem-Filhos

Todos nós, ao longo da vida, vamos ocupando lugares ou papéis que a sociedade nos vai atribuindo, consoante o tipo de vida que levamos ou as escolhas que fazemos. Uma espécie de rótulo, vá. Todos já fomos "tios" de alguém sem o sermos. O amigo/a do amigo ou o ex-namorado/a de alguém. Os vizinhos do fulano tal, aquele que mora na vivenda lá do fundo.
Com a passagem dos anos, passamos desses pequenos rótulos a fazer parte integrante de grandes grupos. A mim, aos 33 anos, o que me é mais relembrado é o facto de eu ainda não ter filhos. A vantagem ou desvantagem disso mesmo.
Vocês sabem do que falo. Todos os que já são pais sabem o grande Antes e Depois. Os que não, sabem o Ainda e registam o que se espera depois desse marco importante.
Os casais Sem-Filhos ganham tanto destaque como os casais Com-Filhos. Entre eles há diferenças diárias óbvias, prioridades e preocupações que saltam à vista.

Eu anseio sempre pelo fim de semana, mas tenho amigos que o temem. Eu quero sempre as férias mas já ouvi desejarem férias das próprias férias.
Se me apetece ir jantar, começo logo a pensar num preço mais acessível ou com lugares para estacionar, de preferência junto a uma vista agradável. Com filhos, só os restaurantes que aceitem aquecer a sopa que vai no Tupperware ou que tenham cadeirinhas.
Todos têm cartões da Chicco, Toys R Us, Imaginarium... (confere? Vejam lá a carteirinha).
Eu que não tenho filhos, consigo não planear o jantar. Comer uma tosta, beber um sumo, preparar uma tigela de cereais a um Domingo à noite. Eu vejo os casais com filhos a tentar o mesmo, mas só dá para comerem metade, a outra vai parar ao chão, depois de terem construído três puzzles e uma torre de legos.
Eu consigo sentar-me no sofá a fazer zapping, mas tenho amigas que precisam de sentar na sanita, para terem silêncio. Ou não. Quase nunca.
E a história do despertador? Eu PRECISO de um, não sei viver sem isso. Mas sei que alguns vizinhos gostariam de poder usar um.
Eu ainda saio de casa com uma mala pequena, mas tenho amigas que levam a mala, uma mochila e um enxoval de alguma coisa, não vá o diabo tecê-las.
E quando me perguntam "Tens tolhitas?" "Eu não!" "COMO não andas com toalhitas?!".

Se eu ainda quero ter filhos? Claro que sim. Tenho só de comer chocolate ás escondidas, habituar-me a ver o Noddy sempre e dizer "Ai caneco" e "Que chatice" no lugar de "F***-se, outra vez?".

Simples.






domingo, 7 de junho de 2015

FMRL

Foi assim que chegaste. De repente mas em surdina. Sem saberes dançar mas a escolheres a música a cada movimento dos meus olhos.
Não te posso pedir que gostes de mim,para sempre. Peço só que gostes todos os dias, um de cada vez.
Não te posso pedir que nunca me mintas, me ocultes ou me fujas. Só peço que saibas viver com todos os teus gestos.
Não te peço flores todos os dias. Peço-te só que nunca deixes de me dar cor.
Não te peço nenhuma jura ou palavra escrita. Peço-te só que te lembres que há coisas que se tatuam cá dentro.
Mas que não se vive disso.
Não te peço que me chegues inteiro. Peço-te só que venhas tu, em ti.
Rigorosamente assim. Tu.
Não te peço que sejas meu. Ninguém é de ninguém. Peço-te só que te deixes ficar, em bocadinhos, em mim.
Não te posso pedir que fiques sempre. Quero só que me mostres todos os teus lados.
Lados negros e lados não-negros. Quero saber o que te faz rir e o que te leva a chorar.
Não te posso pedir que nunca hesites, nunca duvides. Peço-te só que me continues a dar certezas.

E sabes que mais?

Fica. Escolho que fiques. Aqui, aí ou simplesmente por perto. Escolho que não te ausentes. Que continues a cantar desenfreadamente em viagens de carro. Escolho que continues a acreditar no que sou. De onde vim e porque fiquei aqui.
Escolho não desistir, não rotular os dias, não achar que comando tudo.
Escolho isto. O dia de hoje. O de ontem também e quem sabe, amanhã.
Porque estás em todos os dias e porque todos os dias são uma primeira vez.

Obrigada, infinitamente obrigada.




quarta-feira, 20 de maio de 2015

(des) Planos

Tenho uma luta constante entre o coração e a cabeça. Mentira...o coração ganha sempre. E se está predestinado a ganhar, talvez não seja uma luta. É mais uma afirmação ou uma teimosia a fazer frente a todos os pedacinhos racionais que possam habitar em mim.
Ensinaram-me que não há nada mais forte que a intuição, aquela primeira voz que nos atormenta, sossega ou nos empurra para a frente. De todas as vezes que não a segui, de todas as vezes que tentei dar uma de crescida, metódica, racional...de todas essas vezes, me arrependi. Sim, porque aquela história que fica bem contar, do género "Eu só me arrependo do que não fiz" é mais do que um mito. É tanga mesmo. Toda a gente se arrepende de alguma coisa. E eu faria muita coisa diferente. Daria sempre a taça ao coração, fazia festas à razão e moderava as expectativas.
Expectativas. Sempre as mesmas putas que toldam tudo à volta. Que aparecem nos Nãos, nos Sins, nos Talvez, nos Vamos ver.
Se eu as soubesse controlar, seria tão mais fácil. Tão mais seguro. Tão melhor.
Não me lembro que idade tinha quando nada me fazia acreditar que eu era capaz de andar de bicicleta. Enganei-me tanto. Fui capaz e ainda hoje, mesmo que taralhoca, lá me aguento.
Na escola, achava que se fosse sempre certinha e atenta, conseguiria o que queria. Tinha um plano, um caminho desenhado na minha cabeça. Saiu tudo furado. Perdeu-se uma jornalista, ganhou-se uma educadora.
Achava que o primeiro amor seria também o último...voltei a enganar-me. Há tanto para além disso!
Sempre achei que o casamento era para toda a vida. Nem sempre. E afinal, o mundo continua e avança.
Tinha a certeza absoluta que era dona e senhora do meu nariz, autosuficente, que ninguém me tiraria o tapete. Caí nesse mesmo tapete.
Cheguei a pensar que conseguia controlar as dúvidas, as certezas e a capacidade de gostar de alguém. Errei, de forma doce. Falhei redondamente e ainda bem.
Sempre achei que o dizer tinha mais ou tanta importância como o fazer. Hoje sei que não.
Rotulei muita coisa de "provisório" e ainda cá estou.
Achei que conseguia aceitar tudo com alguma leveza, relativizar a ingratidão ou aquelas palavras injustas. Exactamente o oposto.
Ainda acredito num lado bom até na pior das pessoas, mas acho que só com duas chapadas a mim própria pensarei de outra maneira.
Sempre achei que ia ter uma casa com um sótão, um escritório e uma lareira. Nunca tive nenhum dos três. E isso até me faz rir.

Nunca elaborei segundos planos. Tive sempre a dura convicção que concretizava tudo à primeira. Hoje em dia sei o que é o plano B de "bora". O plano C de "caramba, outra vez?", o plano D "Depois vê-se..." e o plano E de "Enfim...faz de outra maneira".
Há sempre um plano dentro do plano.
Assim como há sempre um Nós dentro dos nós que achamos que nunca nos vão atar.
E esse Nunca...não existe. NUNCA existirá.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Carta aberta à Asma.

Sei que não te conheci num café ou num encontro de amigos. Lembro-me bem que não te convidei sequer para entrares na minha vida.
Por simpatia, demorei tempo demais a fechar-te a porta e por teimosia, achei que te convenceria a partir. Ainda hoje sou crédula em tanta coisa!
Há 6 anos tivemos um encontro imediato, numa Sala de espera de um Hospital em que tive tempo para fazer todas as perguntas que queria. Dizem que és Crónica. Pois bem, eu sou Crónica e meia porque tenho um dom especial para bater sempre na mesma tecla. Continuo crédula, crente demais para me convencer que não te consigo dar a volta.
Já alguma vez te disse tudo o que me foste tirando e dando em proporções tão ingratas? Hoje tenho lata suficiente para te dizer que nunca gostei de ti. Tu tens, ao longo dos anos, tido mais apreço por mim. Atreves-te a ir comigo para o trabalho, a mexer com os meus movimentos. E dormes tantas vezes comigo. Fecho tudo, fecho até o coração mas tu não me abandonas. Já te pedi quase sufocada, já te pedi a chorar, já te pedi em voz alta e enquanto sonhava: por favor, desiste de mim. Como desististe naquela noite em Janeiro, que só tu e eu sabemos, que nem por ser 5h da manhã te foste embora. Lembras-te quando me sentei no chão, sem força para mais nada? Como te tentei combater com a dita da bomba e tu foste mais forte? Venceste-me pelo cansaço e eu adormeci em cima de ti. Deixaste-me ali, exausta e recuperar sabe-se lá o quê.
Só quem te tem ou quem te viu já, sabe a luta que é.
Hoje estou estável e torço todos os dias para que não te lembres que algum dia te deixei entrar. Se voltares, tens uma chá de gengibre em cima da mesa, daqueles que picam mas que te mantém entretida a uns metros daqui.
Não penses que estou sozinha. Tenho toda uma brigada a combater ao meu lado. Sabes porquê?
Não, não sabes nem nunca irás saber. Como sei que te estás a cagar para todas as vezes que senti o coração a saltar pela boca, a tosse a puxar-me as lágrimas e de todas as vezes que parei o carro por tua causa. De todas as vezes que disfarcei estar mal para não se assustarem, de todas as gargalhadas deixadas a meio e de todas as vezes que miúdos de quatro anos me perguntaram se me doía o peito.

Minha querida Asma, o Mundo é redondo. Gira. E eu sei que te voltarei a ver. Aí, tem cuidado comigo.
Porque nada pára uma grande decisão. E eu decidi ser feliz.


domingo, 12 de abril de 2015

As princesas do Para Sempre

Hoje escrevo para todos os olhos que não se fecham sem um suspiro de Boa Noite. Para quem cresce com os sonhos de uma árvore, presa à Terra mas grande como o pensamento.
Para todos os sorrisos sem dono, para os corações que não dormem e esperam sempre. Ali,no mesmo sítio e à mesma hora.
Para as que não perdem de vista a esperança, para quem acredita que o mar afinal não acaba ali e que nada acaba aqui.
Para todas as lágrimas caídas no fim da estrada percorrida. De alegria. De alívio ou de dor. E tantas vezes dói. Eu sei que dói. Para todas as que acham que morrem na praia. Nunca se morre na praia. Apenas nos é mostrado que não é por ali.
Para as duronas de serviço, que são as primeiras a abraçar a almofada. As que estão prontas para o que der e vier, armadas de defesas até aos dentes e que no fundo só querem um jantar à beira-mar.
Para todas as caras coradas que nunca tiveram um pequeno-almoço na cama, não mudam as flores da jarra para não verem espaços vazios. Para as que guardam os bilhetes de cinema, naquela bolsinha do meio ou no lugar das notas.
Para todas as princesas sem coroa, que sabem com quantos quilates se cobre um desejo. Para as pequenas estrelas que todas nós temos e que nos borramos de medo que nem sempre brilhem.
Para todas as que vêem um herói de capa e espada a caminho, demore o tempo que demorar. Para todas as que já não acreditam que ele chegue, mas que ainda suspiram com a ideia.
Para todas as que sabem o valor de um beijo, da carta nunca escrita ou das desculpas que nunca chegaram ou chegarão.
Ás que sonham dançar à chuva ou no meio do nada, puxadas por um qualquer desconhecido.

São estas as princesas do Para Sempre, seja qual for a duração do sonho, da ilusão, da utopia.
Porque em cada Sempre existe um aperto no peito, um desejo de Que Seja Agora.
Em cada Sempre há um Para Sempre que guardamos cá dentro, na gaveta do Até que Enfim.


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Do Teatro, com amor.

Sempre achei que quando Deus distribuiu a expressividade e a emoção, eu me pus três vezes na fila. Exagerei. Podia ter ido só uma, mas teimosa como sou, tinha de fazer diferente...pois claro. Quem me conhece, sabe que quando me rio, o faço sem filtro e com todos os tremeliques a que tenho direito. Quando me enervo, excedo o meu limite numa fracção de segundos: dá-me forte e desaparece ainda mais depressa. Quando choro, é a vergonha total. Ela é soluços, ela é ranho que vai parar à boca e coisas assim nojentas. Quando me espanto ou me admiro, rebento a escala das expressões crédulas mais parvas de sempre: consigo misturar o "naaaa, não acredito" com uma espécie de "F***-se!" ou "Eiiiiiiiii". Mais ou menos isto, vá. E os sustos que apanho só porque sim? Assusto-me com alguém que já lá estava e eu nem dei conta, com uma campainha, uma buzina ou um simples "buhhh".
No meio disto tudo, há a gavetinha das paixões, porque até no gostar eu sou intensa...Nela está aquela que já toda a gente sabe, o Teatro. Não me lembro quando comecei a vibrar com as milhentas hipóteses que todos nós temos de nos levarmos ao limite. De sentir, de permitir sentir. Deixar que a noção de onde começámos e terminámos se perca pelo meio.
Quando decidi frequentar Teatro, decidi escolher-me a mim em primeiro lugar. Por pura paixão. Fi-lo numa altura de grande mudança pessoal, de mares mais agitados que o Deus me livre. Quando escolhi ser eu o amor da minha vida.
Entre exercícios de improviso, jogos de movimento e memorização, virei-me do avesso. Corei. Tremi de nervos. Bloqueei. Travei-me. Ri-me em alturas inconvenientes. Mas senti tudo isso.
Percebi que o medo pode ser o meu melhor amigo, que me empurra para o que tem de ser. Seis meses depois, texto final escolhido e pronto a ser trabalhado.
"Nós não somos a personagem, somos sempre nós...nas pantufas da personagem". Agora sim, let the show begin!

segunda-feira, 30 de março de 2015

Um ano.

Há um ano que não chorava por ti. Emocionei-me muitas vezes. Falei contigo e tive discursos unilaterais, em alturas mais confusas em mim, mas chorar mesmo como agora, chorar como quis chorar ao longo do dia e como o fiz enquanto vim para casa...há um ano que não o fazia. Morreste-me da forma mais doce que existe...sem dor. Nunca me doeu teres ido embora. Pode chocar isto, mas nunca me magoaste por teres ido nessa viagem onde ninguém sabe como estás, mas onde eu sei que estás bem melhor. Este dia andava em mim há meses e acho que só tu sabes que os últimos dias foram a conta gotas. Logo eu que achei que tinha exorcizado tudo...mas a saudade nunca se cura, pois não? Guarda-se. Respira-se. Está em nós.
Ao longo deste ano, tanta coisa mudou e eu nem te pude contar. Sei que metade não ouvirias ou não perceberias, porque a tua cabeça já não permitiria, mas sabia que olharias para mim como eu desejo sempre que me olhem: sem cobrar e sem criticar.
A minha vida mudou muito, sabias? Não sei como consegui atingir tanta coisa, mas sei que me passarias a mão na cara, chamar-me-ias de Nocas e ficarias à minha espera como sempre.
Tenho uma coisa para te contar: não regressei ao Porto. Fiquei por Lisboa e foi porque quis. O meu coração ainda é o mesmo e ainda ganha em todas as batalhas.
Tomei várias decisões. Algumas apertaram-me toda, outras tiveram que ser, outras libertaram-me. Conheci pessoas fabulosas, desiludi-me com muitas, aprendi a andar sem GPS, a perceber que há bebidas com álcool que até tolero e a ser mais eu. Ando no Teatro, já te tinha dito? Aquela esquizofrenia de personagens permite-me ser livre e eu preciso tanto disso.
Continuo chorona como tu e embora não tenha confessado a ninguém até ao momento deste post, é contigo que falo de todas as vezes que me sinto sozinha. E são algumas. Não fiques triste, faz parte. Também estou bem e feliz na maior parte das vezes. Tenho tido bons abraços, bons mimos e um batalhão de gente disposto a ir ao fim do mundo por mim. E não, não me admiro, porque sei que cultivo isso e lhes dou em dobro. Posso só pagar em sorrisos, mas sei que contam e muito.
Hoje, por exemplo, senti-me em família. Dei o meu melhor a todos com quem partilhei o meu dia, mas inevitavelmente o meu pensamento fugiu para ti. Senti-me cuidada ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche e ao jantar. Até comi um Calippo, lembras-te qual é?
Gostava de saber se desse lado também te sentes em família, se ouves o barulho da chuva ou se sentes o cheiro a café (tenho uma cafeteira parecida com a que tinhas, daquelas que faz café que espirra por todo o lado quando ferve e espalha o melhor aroma do mundo), se os prédios são altos ou se ainda te pões ao sol horas a fio, atrás de um vidro, mas só ouviria silêncio.
Esta é a segunda carta que nunca lerás e mesmo assim vale a pena.
Porque o amor vale sempre a pena. Pelos que estão, pelos que já não estão, pelos que vão estando.
E a saudade vale por si. Instala-se e fica. Estende-se. Espalha-se. Ferve de vez em quando.

Como hoje.

Se eu te disser que ainda estou a chorar, continuas a dizer que sou o amor da tua vida?
A tua Nocas, pelo menos, serei sempre.



quarta-feira, 25 de março de 2015

Olhar de dentro para fora.

"É no olhar, sobretudo, que a amizade se confirma. É no jeito de olhar que nos reconhecemos no primeiro momento, nós, amigos recentes de longas datas. Isso porque amigo tem esse olhar bom: ele nos olha como se realmente quisesse nos ver, sem nenhum outro interesse que não seja a oportunidade boa e rara de partilhar amizade. Ele nos vê e permanece ao nosso lado, esse conforto que palavra alguma é capaz de traduzir. Esse detalhe grandioso que faz toda a mágica acontecer, porque amar é também a arte de cuidar com os olhos."

Ana Jácomo

sábado, 21 de março de 2015

E se o Medo não fosse real?

O que faria eu, se não tivesse uma ponta que fosse, de Medo? Medo só pelo Medo. Só pela estranheza da palavra. Há sempre Medo de alguma coisa. De uma luz que não aparece, de uma frase que ainda não foi dita, da decisão que já sentimos que nasceu cá dentro. Todos nós temos Medo. Irracional, imprevisível, não traduzível em palavras. Não mostrado em afectos. Não sentido nos lábios. Todos nós já deixamos o coração colado ás costas. Já mordemos a língua para não dizer o que magoa. Todos nós já atiramos com as chaves para o meio do chão.
Tememos tudo como mortais, mas desejamos tudo como se fossemos imortais. E todos acreditamos facilmente naquilo que se teme e se deseja. Como se não valesse a pena nada que nos tire do sério, nada que não faça tremer. Tremer.É isso. O MEDO faz tremer.
E traz certezas também. Certezas do rumo a tomar no mais avesso dos dias. Nas noites em claro.
E se o Medo não fosse real? Teria eu olhar de menina em corpo de mulher? Pensaria tanto nas respostas que ás vezes procuro? Arriscaria tanta estrada na minha vida? Pararia de me questionar sobre o que já sei?
Entregaria os pontos, sem mais nada? Deixava-me estar, quieta, sem pensar em nada, deitada num abraço?
Se o Medo faz parte, porque inventaram a consciência? Porque pensamos duas vezes, se o Medo nos pode lixar à primeira?
Tenho Medo sim, tu que estás a ler também. E tu, e tu e tu também. Ás vezes mais do que um Medo. Mais do que uma vez.
E o mais estranho de tudo, é que espero tê-lo sempre. Só o Medo fala comigo quando penso em travar o que tem de ser feito. Só ele me empurra quando peço mais uns minutos.
No dia em que o Medo não se importar comigo, já cá não estou.

O que faria eu, se não tivesse uma ponta que fosse, de Medo? Medo só pelo Medo.
Sim, é isso...tenho Medo de saber.





quarta-feira, 18 de março de 2015

É por isso que gosto deste homem.

"Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.

E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da liberdade.
Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente, ordenadamente, no respeito das regras da democracia, com manifestações próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e Calar.


Sou dos que acreditam na invenção desta crise.
Um “directório” algures decidiu que as classes médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e invadiu o dia a dia.

Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz.
Parece que alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja final.
Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita sobrevivência.
Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado que se comprometia devolver o investimento de uma vida de trabalho. Mas, daqui a 20 anos isto resolve-se.

Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro entre os medicamentos e a comida.
E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão impossível.
A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o milagre da multiplicação dos pães.

Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais impedem-nos de sair de casa, suicidam-se mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores de geração espontânea, mas 81.000 licenciados estão desempregados.

Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho.
Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada” faz um milhão de espectadores.
Há terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de euros.
Há carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade.

Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros países intervencionados.

Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem…estar para ambas as partes.

Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um sonho…

Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se vendem?
E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa.
Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora.

E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer exactamente o contrário do que está escrito no dicionário.

Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos.

E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista…

Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e almoço.
E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome , envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos.

É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade."

- Júlio Isidro







domingo, 15 de março de 2015

Família.

Já cá não venho há uma semana. Já cá não repouso o meu corpo há 8 dias seguidos. Estive a tentar perceber o que é isso de nos sentirmos em casa ou em família. Estive a receber mais do que aquilo que achei que dei. Estive a aprender ou apenas a lembrar-me que estar com quem gosto é simplesmente ir a um lugar dentro de nós.
Estar com quem nos quer bem, haja o que houver, faça ou ande eu por onde andar, é algo precioso. É um gostar daqui até ao lado mais escuro da lua. Com todo o brilho do sol. Com o brilho de todas as estrelas juntas. Daquele céu que me viu fazer 33 anos, no passado dia 11. Com a força da gravidade aumentada. Por todos os cantos do céu. Com Lisboa lá ao fundo, a beijar-me em silêncio.
Acho que é assim que eu sou feita, de uma uma forma aluada. Mas inteira, genuína. Sem filtros. Rio-me de forma estridente ou parva, mas rio-me á séria. Porque não travo e porque rir é tão forte e tão verdade como chorar.
E quem me conhece, só pode esperar isso.
Durante esta semana de ausência, tive demonstrações de afectos que mesmo que eu viva 100 anos, não irei esquecer.
Trocar turnos para poder estar lá, onde é preciso. Combinarem boleias em cima da hora, em dias cheios de cansaço e mesmo assim esticarem a corda para poderem lá estar, onde é preciso. Um chocolate que chega na altura certa. O chá que não falha.
Um flor quase murcha, guardada num bolso de umas calças de ganga, que era "para a Mânia". Saber que "não estás velha Vânia, estás tu", não tem preço nem nunca terá.
Aquela mão em nós, as selfies desmedidas e inusitadas. Perceber que afinal consigo beber álcool, tenho é de ser educada para isso. Rir-me de mim própria, convencer-me que o sono é a única coisa que não me deixa dizer "Coca Cola".
Saber que passe os anos que passar, não importa o sítio onde estamos. Importa sim, o amor que nos espera. O telefone que toca à meia noite. Pequenos almoços flashes, almoços com direito a brinde porque um brinde dura só o tempo de um sorriso, certo? Amigos que nos roubam e nos mimam como só eles sabem fazer.
Família que se organiza com bolos, bolinhos e bolões, que fazem trinta por uma linha só para que o coração permaneça quente por mais um pouco.
E permanece.

Obrigada, infinitamente obrigada, por me mostrarem que também se ama no improviso e que há sempre alguém que me espera.
Entrei nos 33 da melhor forma possível e serei eternamente grata por isso.

Porque Família é um conceito onde cabe muita gente. Família é um lugar dentro de nós. E chega.

sábado, 7 de março de 2015

Só o Amor.

Só Amor cura. Só o amor vale a pena todas as lágrimas, todas as noites mal dormidas, todas as quedas. Só amor nos espera. Só o Amor nos vira do avesso, nos mostra o segundo infinito...porque existe sempre.
Só o Amor nos faz engolir em seco. Só o amor nos encosta à parede. Nos faz atravessar pontes. Só o Amor acorda em sobressalto. Só o Amor nos adormece em quente.
Desenganem-se os que acham que o dinheiro e o poder comandam o mundo. Deixai-os pensar que sim. Que o Amor é piroso e desnecessário, que não enche bolsos nem depósitos de gasolina. Não faz truques de magia. Pois não, não faz. Porque não é preciso.
Só o Amor magoa em grande. Não magoa mais ou menos, magoa à séria. Porque tudo o que vale a pena e é forte, tem dois lados. Magoa pelo que foi, pelo que nunca chegou a ser e pelo que ainda está longe. Só o Amor nos faz pensar duas vezes. Só o Amor nos arruma a vida. Em prateleiras sem rótulos e desordenadas. Com roupas misturadas e a verem-se.
Só o Amor é a soma dos medos. Só o Amor amassa tudo ao mesmo tempo. Só o Amor sabe o quanto somos parvos. Só o Amor nos liberta. Só ele nos deixa ser livres. Só o Amor estraga travões. Não os arranca...tira-lhes força.
Só o Amor é capaz. Só o Amor faz errar uma, duas vezes. Errar ainda melhor que a última vez.
Só o Amor.


sexta-feira, 6 de março de 2015

quarta-feira, 4 de março de 2015

Lua Cheia.

Numa altura em que me sinto mais carregada de tudo, pessoal e profissionalmente, percebo que felizmente...ainda somos para os outros, aquilo que pretendemos ser. Ainda somos olhados da forma que desejamos e que tantas vezes achamos impossivel de mostrar.
Num dia pouco famoso para mim, numa fase em que se avizinha muito empenho profissional e que me preparo para mais um aniversário longe do meu habitat natural, percebi que o amor que colocamos nas coisas e o esforço pessoal com que derrotamos, muitas vezes,um leão por dia...pode ser tudo para alguém.
Durante mais uma dia de trabalho, passou-se isto:

"Maria, o que é que estás a dizer que a Vânia é?!"
- "Uma Lua que brilha!"
"Porquê uma Lua?"
- "Porque os teus olhos estão sempre a brilhar".

Escusado será dizer que ganhei o dia.
Mais tarde, perguntaram-me que Lua poderia eu ser: Quarto Crescente, Minguante, Nova, Cheia... a ser mesmo uma Lua, só poderia ser Cheia. Porque tal como ela, percebi que a vontade de ser sempre melhor que ontem, se reflecte por inteiro na Terra à volta.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Verbo Ir.

Nunca soube o que era "esperar que acontecesse" algo. Não sei lidar com a sorte por si só. Ficar sentadinha a aguardar que algo pouse no colo ou haja uma palmadinha nas costas. Cruzar a perna com calma ou simplesmente virar-me para o lado e dormir.
Sou o abraço escondido e o fazer porque vale a pena e não porque me espera algo depois do sol posto.
Sou o beijo de fugida, a saudade que morre todos os dias porque prefiro estar lá, onde devo estar. Sou a mão que abre e a que encosta no sossego de um dia cheio. Sempre fiz por isso, talvez por egoísmo. Por achar que ficaria melhor se gastasse os cartuchos todos. Sou o " é desta vez" e não o "já se vê".
Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu...mesmo que me espalhe ao comprido. Mesmo que bata com a cara na porta.
Sou o perfume a caminho, o " estou a ir" ou o "já saí".
E faço-o porque gosto e quando gosto. Quando gosto prefiro esquecer e avançar. Quando gosto enterro e sigo. E sem ressentimentos ou mágoas guardadas.
Quando gosto só sei gostar sempre. Só sei gostar lealmente. Incondicionalmente. Nos dias bons e maus. Quando chove ou quando o céu tem um ar de vai-não-vai.
Quando gosto. Gosto sempre.
Sou o verbo Ir, sem bilhete de dia certo.
Mas sei que gostava de ser o verbo Ficar. O que descansa e sossega naquele ombro. O que não tem prazo e o que fabrica o próprio tempo. O que não tem estrada pela frente...tem só um colo, uma música, um sketch que faz doer a barriga de tanto rir, um Twix e um sofá.
E era só isto.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Viva.

Um dia depois de andarem os Valentins todos à solta, eu Vânia me confesso, que já achei este dia tão amoroso como um urso de peluche de trazer por casa. Eu suspirava e arranjava mil motivos para fazer diferente do resto do ano. Vibrava sozinha, contagiava quem estivesse comigo e quem ganhava era eu, por não haver coragem de me dizerem que não.
Percebi com o tempo e à minha própria custa, que não deveria esperar por nenhum dia em especial. Que ficaria tão mais inteira, se houvesse um beijo todos os dias e sorrisos todas as noites. Percebi que o meu cupido era movido a sonhos, e que no fim de contas a tendência era estatelar-se contra uma parede, fumar umas ganzas e enfiar a seta no chato mais próximo que o chamasse.


Percebi que Valentim rima com Trampolim. Chinfrim. Prelimpimpim. Tudo que nos faz dar um pulo para o que vem a seguir. Tudo o que nos faz querer mudar a página. E mudar a página pode ser tão e somente isto: deixar sentir. Go with the flow.
Apesar de haver todo um Marketing evasivo deste dia, quem gosta, gosta sempre. E quem gosta assim-assim, nem com as 50 Sombras de Grey lá vai. Só se for com uma espécie de remake em formato "50 posições à Sombra" (não resisti à piada ordinarona, sorry!)
Viva o romance sim senhor. Viva a líbido em alta, sim senhor. Viva os fetiches todos, pois com certeza que sim. Viva o arrepio na espinha com uma cena de elevador ou um coração esmagadinho com uma sala de tortura...mas viva ainda mais ao que podemos reinventar entre quatro paredes.
Viva ao agarrar o braço com aquela forcinha especial. Viva os beijos que nos sugam. Viva o olhar que nos mata.
Viva a vontade do outro. A vontade de ter vontade.

Viva o morrer de desejo. O parar o tempo. O morder o lábio.
Viva.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Surpresas.

Gosto de surpresas. De as fazer, de as proporcionar. Gosto de mudar a direcção à última da hora, de encontrar um abraço perdido debaixo do banco do carro e ter de o ir entregar a alguém. Gosto de ir. Gosto de lá chegar, seja onde for. Gosto que me esperem, à janela ou na porta de entrada. Gosto de não reparar em nada e saber tudo o que há de bom à volta.
Gosto de surpresas. As da vida. Gosto que me provem que o improvável acontece, que para um maluco, maluca e meia...para uma gargalhada, dez em resposta. Gosto do "quentinho" que nos espera sempre, mesmo que pela primeira vez. Gosto de chá em canecas grandes, do tamanho da vontade.
Gosto de não me conseguir cansar, estando cansada e surpreender-me com isso.
Gosto que me façam pensar em voz alta, e me escutem com todas as vozes.
Gosto de surpresas, já disse não já? Não surpresas a mim. Aqueles momentos que nunca ninguém diria, aquela piada que toda a gente já sabe mas que gosto de contar na mesma. Gosto de saber que a meio da frase já me posso desmanchar a rir porque já me perceberam e não preciso de me alongar. Gosto que o frio se quebre com soluções rápidas. Gosto que me façam ver do avesso. Que se nem todos os dias forem especiais, não há mal nenhum. E eu acho isso, já especial...não tenho remédio. Gosto de diminuir as desculpas, aumentar os obrigadas.
E gosto de pessoas que vêm com tudo. Que se dão sem medos. Mesmo com travões pelo meio. Não faz mal, está lá. Que não estão à espera de receber para saber se podem retribuir.
Gosto de pessoas que, hoje, sabem o que querem. Que provavelmente sabem o que querem amanhã. E no dia a seguir. Que não receiam por antecipação. Que vão ficando para ver o que vem. Sem precauções e sem barreiras. Gosto que me ensinem que ser previsivel é bom.

E sim, agora vou voltar a dizer que gosto de surpresas. Já sabiam?


sábado, 31 de janeiro de 2015

A importância de um sorriso.

"O sorriso não é o mesmo que o riso. Separa-os um fosso tão grande como o que separa as lágrimas silenciosas, diante de um desgosto, dos gritos histéricos e lancinantes de quem não sabe dominar-se. Bergson escreveu: “O riso é algo que irrompe num estrondo e vai retumbando como o trovão na montanha, num eco que, no entanto, não chega ao infinito”. O sorriso, pelo contrário é silencioso como chuva mansa que cai e fertiliza a terra ou como brisa suave que acaricia e refresca o rosto. Enquanto o riso é extroversão, o sorriso desvenda delicadamente o interior de quem sorri.

O poder do sorriso é grande, e saber sorrir é algo de muito importante. Antoine de Saint-Exupéry diz: “No momento em que sorrimos para alguém, descobrimo-lo como pessoa, e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos pessoa para ele”.

O sorriso traduz, geralmente, um estado de alma; é um convite a entrar na intimidade de alguém, a participar do que lhe vai no íntimo. É por isso que o homem é o único animal que sorri; e, como é dotado de inteligência e vontade, pode sorrir quando tudo vai bem ou sorrir mesmo que as coisas corram menos bem – tudo se resume na harmonia interior.

O sorriso é o que primeiro acontece quando um rapaz e uma rapariga se olham e se enamoram. Não sabem explicar por que se enamoram, mas é-lhes impossível deixar de sorrir um para o outro, num sorriso cúmplice de quem não precisa de palavras para dizer o que sente. Se o enamoramento continua vem a fase em que, juntos, acham graça a tudo, sem prestarem atenção a nada do que os rodeia. Então, por vezes o seu sorriso muda-se em riso estrondoso, mas cristalino manifestando toda a força da sua juventude. Se o enamoramento leva ao namoro e este ao amor que conduz ao casamento estável, então saber sorrir é fundamental para vencer o desgaste da rotina do dia a dia e para evitar o afastamento de dois seres que, vivendo muito perto, estão interiormente afastados – não estão em sintonia.

É pois muito importante saber sorrir. Um sorriso pode dissipar uma angústia, se for simpático, ou aumentá-la se for sarcástico; pode estimular um trabalho, se for de aprovação, ou desanimar quem trabalha se for cínico; pode criar uma amizade, se for sincero e transparente, ou um afastamento se for hipócrita; pode humilhar de modo irreversível se não for autêntico e espontâneo.

O sorriso pode ser um grande auxiliar na educação. Não o sorriso que pactua com a asneira, mas o sorriso que acompanha uma repreensão justa e que mostra ao visado que, apesar da dureza e firmeza da repreensão, há amizade e compreensão.

Sorrir, porém, pode ser uma tarefa difícil. A dor e o cansaço tornam, por vezes, o sorrir muito árduo. Se há fortaleza interior então há sorriso, mas dorido. Perguntaram um dia a uma doente em grande sofrimento: “Como te sentes?”. A resposta foi desconcertante: com um sorriso-dorido respondeu: “dói-me tudo”.

Mas como anda desvirtuado o sorriso! Será que podemos chamar sorriso o que vemos no rosto dos que assinam os “tratados de paz e cooperação”? Não, o que vemos não passa de um esgar.

E termino com uma frase que vinha num calendário de bolso que me deram: “Não critique, ajude; não grite, converse; não acuse, ampare e… não se irrite, sorria”."


(Maria Fernanda Barroca)

O meu, será sempre vosso.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Uma questão de pronúncia.

Sou portuense de gema, de tripa e coração, com tudo o que tenho direito: panca por Francesinhas e pronúncia acentuada. Ás vezes, nem sempre, confesso...e com grande pena minha. Estou há 5 anos e meio em Lisboa e, sem querer, vou adaptando o meu discurso e toda a fonética, à linguagem dos que ouço à minha volta. Nos dias em que falo ao telefone com alguém do Porto, tudo se intensifica ou quando vou lá passar uns dias. Dizem os que me aturam, que desta vez venho bem carregada.
Este post é para eles mesmo. Para os que se riem e me tentam imitar e que eu sei que o fazem com carinho :) para os que me pedem para repetir quando digo "mas isto agora é 'sempr'abiár?!" ou "Num bais comêr?".
Ouvirem desabafos indecifráveis do tipo "paaaaasht" enquanto reviro os olhos ou despachar alguém com um "Andor Bioleta!", é algo frequente.
O que distingue o falar do meu Porto, mais que a maior ou menor criatividade de algumas expressões populares — aliás presente em todo o País — é a fonética. Os órgãos que articulam a fala dos portuenses são rigorosamente iguais aos de qualquer português, acreditem. Contudo, talvez por influência de réstias de uma língua anterior ao galaico-português (apeteceu-me parecer chique agora), no Porto os «b», por exemplo, são mais fortes e sobrepõem -se aos «v». Daí resulta o «binhu» (vinho), «barãnda» (varanda), «biána» (Viana) ou «bibu» (vivo).
Uma outra particularidade portuense, e nem sempre entendido para quem chega, é o modo descomplexado e até com sentido pejorativo como são utilizadas palavras e expressões que noutros locais são tidos como grandes palavrões. Não é invulgar ouvir uma amigo dizer a outro, dando-lhe uma palmada nas costas: «Anda cá, meu filho da puta...» Tal como não é uma coisa do outro mundo presenciar uma mãe a regalar-se com uma tropelia do filho, chamando-lhe carinhosamente «cabrão do caraças». JURO que não é má educação. Vá...não é lindo de se "oubire" (ou então é...) mas é quase inevitável.
Eu própria, no trânsito, digo coisas bem ruins e se estiver bem disposta, sai qualquer coisinha a dar ênfase à minha alegria. E mais não posso dizer porque tenho uma reputação a conservar.

E expressões que quase só nós tripeiros entendemos? ADORO! Querem saber umas quantas?

Deu-lhe a filoxera — Desmaiou.
Dar corda aos vitorinos — Andar rápido, fugir.
Dói-me o garfeiro todo — Doem-me os dentes.
Já vem aos Ésses — Estar bêbado.
Estar de beiços ou trombas — estar amuado.
Foi fazer tijolos — Morreu.
Foi com as couves! - Morreu.
Mandar uma traulitada directa à caixa dos fusíveis — Dar um murro nas ventas, quer dizer, no focinho, ou seja, na cabeça.
Vidrinho de cheiro — Diz-se de alguém que se ofende facilmente.
Secou-se-lhe o céu da boca ou quinou — Morreu.
Vai no Batalha — Como quem diz: isso é filme; forma mais prosaica de dizer que é mentira.

Aloquete — Cadeado.
Azeiteiro — Parolo.
Benha — Diz-se repetidas vezes, e é o grito de guerra dos arrumadores de carros para assinalar um lugar vago entre muitos outros disponíveis. É um «beinha» que prosaicamente significa «venha».
Botar — Pôr, deitar.
Breca — Cãibra.
Burgesso — Aquele que, além de burro, é teimoso e feio que nem uma porta.
Canalha — Miúdos, crianças.
Cruzeta — Cabide.
Chuço — Guarda-chuva.
Estrugido — Refogado.
Fino — Cerveja servida a copo.
Moina — Polícia.
Morcão — Palerma.
Sameira — Cápsula de refrigerante.
Vagem — Feijão verde.

Posto isto, só me ocorre dizer que o Porto, é uma NAÇON!!! Ahaha
E nem sequer teve infância, já nasceu grande!!!!

sábado, 24 de janeiro de 2015

Norte.

No outro dia, uma amiga minha disse-me isto mesmo:

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer.


(Miguel Esteves Cardoso)


e eu gostava tanto de acreditar que me vêem assim...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Não me apetece dar título a isto.

Num país em que a adopção de crianças por casais homossexuais é chumbada e a venda da PT aprovada, só me resta concluir que, infelizmente, é muito melhor termos dezenas de canais, internet ás paletes e telefone fixo, do que dar a oportunidade a uma criança órfã, de ter uma casa. Ai Portugal, Portugal...de que é que estás à espera?
Já sei que possivelmente, ninguém irá aqui opinar, porque sempre que abordo politiquices religião ou futebol, fica tudo calado que nem um rato. Gente, aqui na Sala fala-se de tudo. E eu, como Educadora de Infância vos garanto, que as crianças fazem uma leitura do amor da forma que tem de ser, não distinguem se vem em formato homossexual ou não.
O amor, seja de que forma for, é e será sempre saudável. A ausência ou privação do mesmo, é que tem duras consequências.
(E como diz o Filipe Vargas) Das duas uma: ou os 120 deputados que votaram contra a adopção por casais homossexuais são todos voluntários assíduos em orfanatos e dão metade do seu ordenado às instituições que acolhem estas crianças sem família, ou caso contrário não entendo como é que podem hoje dormir com a consciência tranquila.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Ode...aos Românticos.

Românticos. Essa espécie cada vez mais rara. Cada vez mais olhada de lado.
Hoje vim confessar-me em voz alta. Padeço dessa doença secular, incurável, gratuita e despachada. Gratuita porque não abasteço farmácias, desenrascada porque não atrapalho nas salas de espera de um qualquer consultório nem perco tempo com o que não tenho. Vou atrás. Viro o mundo ao contrário e em nome próprio.
Muita gente acha que ser romântico é ser exigente. Nada disso.
Hoje vim defender todos os piegas e lamechas como eu, que lambem feridas sozinhos e que são constantemente motivo de risinhos por acharmos que um dia...o nosso dia chegará. E se chegar? Em que é que isso pode parecer ridículo?
Ridículo é a descrença dos tempos. É não ver luz nenhuma em lado nenhum. É o comodismo, o morno e o assim-assim. É um "podia estar ali, mas estou mais quentinho aqui".
Nós, os Românticos, somos tudo menos exigentes. Somos tão chonés (já vos disse que adoro esta palavra?) que qualquer coisa nos faz colar o coração ás costas. Basta a primeira palavra doce no início de uma frase e pronto...já fomos. Já o chão desaparece. Choramos com novelas que nunca vimos, filmes que ainda nem deram mas que vimos o trailer e isso basta, temos sempre a colecção da Renova em diferentes formatos de lenços, reparamos nos velhinhos de mão dada, achamos que aquela música é sempre para nós e sonhamos com videoclips. Dormimos quase sempre na posição pirosa da conchinha ou de barriga para baixo, abraçados à almofada (é isto, não é?).
Somos tão básicos que um jantar a dois no meio do chão ou dentro de um carro, pode superar um restaurante cinco estrelas.
E não somos parvos. Sabemos que a imagem do "felizes para sempre" e do príncipe que nos salva num cavalo branco, é uma agulha num palheiro numa variante raríssima da utopia do amor (agora compliquei...eu sei). Ou seja, sabemos que isso não vem. Se existissem, o homem da Telepizza não viria de mota. Get it?
Apenas acreditamos que essa mesma mota nos pode levar de impulso por estradas feitas por nós. Ou simplesmente a uma roulote de cachorros ás 4h da matina. E isto todos nós gostamos.
Os Românticos, nem quando sofrem chateiam. Adormecemos a chorar, bem sossegados. Ficamos bem amassadinhos por dentro, depois de uma noite a sonhar que cantamos o I Will Always Love You da Whitney Houston, com o Kevin Costner a ver. E na manhã seguinte, não aprendemos nada. Fazemos as pazes com a vida, isso sim.
Acreditamos apenas que o amor está onde tiver que estar.
E se demorar, esperamos. Se vier já a seguir, estaremos prontos. Se estiver atrasado, basta avisar, que aqui nos manteremos.
O amor também é uma coisa estranha. O amor forte raramente é fácil. Faz-nos muitas vezes dar voltas que nunca pensámos. Coloca-nos em caminhos que não achámos possíveis. Sinuosos e difíceis de percorrer. Faz-nos, muitas vezes, ter medo do que vem a seguir. Faz-nos pensar e questionar muito daquilo que tínhamos como adquirido. Faz-nos tomar decisões que não entendemos. E que, até, nem queremos.
O amor também é uma coisa estranha. Muitas vezes difícil. Rodeado de interrogações. De muros que não deixamos desconstruir. De bagagens de tempos passados, carregadas de falhanços acumulados.
O amor não tem de ser um drama. Não tem de doer. Não tem de fazer sofrer por antecipação. Não tem de ser nervoso. Não tem de ter todas as respostas do mundo. Tem de ser o querer decidido. Os Românticos acham que a paixão é urgente. O beijo ardente. O abraço carente.
O amor é hoje. Não vale cruzar os braços e aguardar que passe.
O amor é hoje. E não vale condenar o presente com medo de não saber de cor o futuro.

Nós, os Românticos, pensamos assim. E isso não me chateia nada.

domingo, 18 de janeiro de 2015

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Deus do céu, se me estás a ouvir...

...Por favor, faz-me surda ou amarra este homenzinho, de seu nome Ed Sheeran (o "Xaraaaaaan" como diz a minha querida Carina) bem longe, porque eu ANDO VICIADA NESTA MÚSICA. Amo de paixão, canto sozinha feita parva, sonho com o videoclip, danço com os miúdos da minha Sala (que já me dizem "olha a tua música Vânia!"). Deus do céu restabelece a minha sanidade mental, cola os meus pés à terra, e eu prometo umas quantas Avé Marias.
A voz deste cenourinha já é uma preciosidade, mas as letras são simplesmente viscerais.
E as rádios, que devem andar tão malucas quanto eu, passam o Thinking Out Loud vezes sem conta. Tenho cá para mim, que devem fazer um complô diário a gerir apostas, de quando o meu coração vai dar o berro.

When your legs don't work like they used to before
And I can't sweep you off of your feet
Will your mouth still remember the taste of my love
Will your eyes still smile from your cheeks
(Quando as tuas pernas não funcionarem como antigamente
e eu não puder te amar total e completamente,
será que a sua boca ainda se lembrará do gosto do meu amor?
será que os teus olhos ainda sorrirão através das tuas bochechas?
- Claro que siiiiiiiiiiiiiiiiiim Eddie!!!)

Darlin' I will be lovin' you
Till we're seventy
Baby my heart could still fall as hard
At twenty three
(E, querida, eu vou te amar até que tenhas 70 anos
E, baby, o meu coração ainda pode amar como se tivesse 23
- oh páaaaa, ninguém aguenta isto!!!)

I'm thinkin' bout how
People fall in love in mysterious ways
Maybe just the touch of a hand
Me, I fall in love with you every single day
I just wanna tell you I am
(E eu estou a pensar sobre como as pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
talvez seja tudo parte de um plano ou eu a apaixonar-me por ti todos os dias
E eu só quero te dizer agora
...)

So honey now
Take me into your lovin' arms
Kiss me under the light of a thousand stars
Place your head on my beating heart
I'm thinking out loud
Maybe we found love right where we are
(Então, querida, agora leva-me nos teus braços amorosos
Beija-me sob a luz de mil estrelas
Coloca a tua cabeça no meu coração a bater
E eu estou a pensar em voz alta
que talvez nós encontramos o amor onde estamos
- Coisa má bouaaaaa!)

When my hair's over grown and my memory fades
And the crowds don''t remember my name
When my hands don't play the strings the same way (mm)
I know you will still love me the same
Cause honey your soul
Could never grow old
It's evergreen
Baby your smile's forever in my mind and memory
(Quando minha cabeça não estiver boa e minhas memórias, apagadas e as pessoas ainda se lembrarem do meu nome,
quando minhas mãos não tocarem violão da mesma maneira...eu sei que vais amar-me do mesmo jeito
porque, meu amor, a tua alma nunca vai envelhecer...
Baby, o teu sorriso estará sempre na minha memória
- não há como resistir a isto...)

E o videoclip? Alguém já viu com olhos de ver aquele videoclip?
É bom que um dia me roubem para dançar assim, ou estão tramados comigo. Já sei que não sou podre de gira nem boa como a cachopa que ele escolheu, nem tão pouco pareço um cisne esvoaçante...mas se fecharem os olhinhos, a coisa dá-se.
Ai Ed Sheeran, Ed Sheeran, tu matas-me. E se um dia leres isto e não perceberes nada, só tens que entender que eu também estou aqui a pensar Out Loud, que um dia tu vais estar Dancing With Me, e eu vou fingir que és alto e espadaúdo e que estaremos a sonhar debaixo de Thousand Stars, get it? Fixe.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Lado B

Apetecia-me tantas vezes ser transparente. Mesmo sabendo que todos temos camadas. Mesmo sabendo que até não é mau termos defesas em forma de guarda chuvas impermeáveis a tudo. Adorava que me lessem a mente. Que soubessem exactamente aquilo que me percorre. Que adivinhassem o meu querer, o meu mais secreto pedido. Que me conhecessem de cor a vontade. Que me olhassem nos olhos e imprimissem um livro inteiro. Que me folheassem antes de dormir e não a meio da tarde.
Apetecia-me que me virassem o mundo do avesso. Que me tirassem o tapete. Que me desconcertassem os dias, as horas e os minutos. Que me baralhassem. Que me roubassem o chão. Que me plantassem dúvidas e que nunca as tivessem de mim. Que me fizessem colar o coração ás costas. Que me fizessem sorrir ainda antes de abrirem a boca.
Apetecia-me o Lado B do mundo.
Num tempo incerto, mas certo dentro de mim.

(chiça, que isto hoje foi lamechas...)

domingo, 11 de janeiro de 2015

Morto, morrido e matado.

Há uma dúvida que me assombra de vez em quando: Quando duas pessoas que se amam terminam, para onde é que vai o amor? E as que já não se amam? Onde é que fica o amor ou onde o deixaram acabar? Quem é que guarda ou destrói? Onde meteram elas o amor? E o desejo pelo desejo, quando é consumado, desaparece? Se desaparece, vai para onde?
Quando uma pessoa morre, deixa para trás tudo o que lhe pertenceu e cada um escolhe no que acreditar. Uns acreditam no céu, outros no inferno, outros acreditam que a pessoa está simplesmente debaixo da terra e outros não acreditam em absolutamente nada. Mas existe uma opção, existem vários cenários possíveis. No amor não. O amor acaba e deixa de se falar dele. O amor acaba e não há céu, nem inferno, nem falecido nem adormecido. É nada. Torna-se algo do qual não se fala, do qual se foge para não magoar. E passado uns anos vamos-lhe esquecendo o gosto e os traços, como esquecemos aquelas pessoas que conhecemos nos casamentos dos amigos dos nossos pais ou nas férias de Verão.
O amor quando separa as pessoas fica a pairar no ar. Ninguém o reclama, ninguém o olha. Fica nos perdidos e achados na vida, que ninguém sabe onde são. Numa espécie de limbo amoroso. E quando já não há amor...para onde foi ele?
Há quem mate o amor e fique para o ver partir. Há quem o vá matando com mentiras, com descuido, há quem o vá matando a discutir e com silêncio. Há quem o mate, e assim que o amor morrer, larga-lhe da mão e parte. Fica morto, morrido ou matado? Há tantas formas de desprogramar o coração.
Escolhemos um lugar para as coisas. Mas e o amor? Guardámo-lo onde? Cá dentro? E a paixão? Será uma irmã bastarda do amor. Fica escondidinha ou camuflada, só a servir de primeiro patamar, prestes a apimentar o amor que fica...cá dentro, talvez.
Se calhar é isso. Se calhar quando se termina com alguém apesar do amor, o amor fica cá dentro. Arrenda um quarto pequeno no nosso corpo. Ninguém passa recibos e ninguém toca à campainha. É um vizinho silencioso que não nos lembramos que existe até nos cruzarmos com ele no hall de entrada. Quando se termina apesar do amor,em alguns casos, o amor fica cá dentro. Apesar de custar. Quando duas pessoas terminam o amor fica onde estava. E os pés mudam de direcção e as almofadas também. Mas em algumas histórias ele continua lá. À espera que o ressuscitem, ou o matem de vez naquele lugar das coisas incertas das pessoas que quase foram felizes. Apesar de não estar certo, apesar de não fazer sentido.
E as memórias embriagadas de saudade? Onde ficam elas, quando não podem aparecer? Porque se aparecerem, vão doer. Vão fazer uma espécie de buraquinho a sangue frio. De uma dança ao ar livre, de uma noite perfeita que sabemos que não pode ser igual porque já passou. Pode ser repetida, mas nunca igual. O que fazemos a essa vontade de estar? Fica morta, morrido ou matada?
Vá, digam-me.

(texto adaptado - "Para onde vai o amor?" de Carolina Deslandes)

sábado, 10 de janeiro de 2015

Só uma coisinha...

Estou chocada sim, com o que se passa em Paris...mas não menos admirada por de repente aparecerem Charlies em todo o lado, precisamente num país em que nem os "capitães de Abril" deixaram falar e onde um jornal satírico duraria uma semana, caso se levantasse contra a igreja ou política. Um país onde de repente todos os jornais são Charlies e eu desconhecia. Sei que os há e ainda bem! Mas os que não são...não se façam passar por tal só porque fica bem. Sou a favor do humor sim, aprendi a rir-me de mim própria e a comédia não deveria matar. Vá lá, que não tenho jeito para desenhar nem nunca tive!