segunda-feira, 25 de março de 2013

Carlos Cruz

Quando criei este blogue, em Julho de 2012, criei-o a pensar que se falaria de tudo. De tudo mesmo. Coisas banais, não banais, assuntos fofinhos e assuntos terríveis. Sem crenças, sem clubes ou politiquices.
Sei que, possivelmente, vão-me chamar de ingénua, levantar as sobrancelhas onde se poderá ler algo parecido com coitada-esta-ainda-é-crente-no-Pai-Natal...mesmo assim, tenho de o dizer, nem que seja a única a achar isso.
Prestes a ir para a prisão, cumprir os seis anos que restam da pena atribuída, posso assegurar-vos que sempre acreditei neste homem.



Todos os outros, foram injusta ou justamente culpados para mim, porque só o enredo da Casa Pia me enjoa. Só a história e os acontecimentos me dão a volta à barriga. Mas todos os outros, aos meus olhos, tinham feito e pronto. Não sei se é sexto sentido feminino, não sei se foi um não conhecimento dos factos, mas olhava para eles todos achando que, de facto, tinham um ar duvidoso. Até aquela figura que eu amo desde a infância, o Herman (apesar de se ter safado e supostamente ter provado nada ter a ver com o assunto) me parecia suspeito.
Mas o Carlos Cruz? O senhor televisão? O que me deu a conhecer o Zé Sempre em Pé, a Bota Botilde? O que me agarrou noites a fio com o suspense dos prémios 1,2,3? O senhor que trouxe o Euro 2004 e nos fez sonhar como já nem nós próprios sabíamos como era?

Quando ouvi a primeira vez, o nome como suspeito e só suspeito, pensei: "A sério? Ai o cabrão..."
Depois quando o ouvi falar, e noutras vezes para a frente, já não fui capaz de o condenar. Chamem-me parva vá, mas há ali alguma verdade naqueles olhos. Não consigo dizer que está a mentir, porque toda a expressão dele, toda a postura tem sido coerente aos meus olhos, desde sempre. Provem que foi ele e eu cedo. Mas mostrem fotos!!! As mesmas que ele diz nunca lhe terem sido mostradas ou levadas a tribunal.
Eu cedo, a sério que eu cedo, se eu vir uma única imagem ou vídeo de pedofilia com este senhor.

Até lá, ele será para mim, um inocente preso. Porque a Justiça não é imaculada e pode errar e casos há assim, espalhados pelo mundo.
Esta, foi a carta que Carlos Cruz escreveu ontem, e que vos coloco aqui, apenas para pensarem se realmente há certezas indiscutíveis.

“CARTA AOS MEUS AMIGOS... E AOS OUTROS

Começo com uma frase de Gandhi que me foi recordada há dias por um grande amigo meu: “A prisão não são as grades e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão; é uma questão de consciência”.

Como eu sei que é verdade! E por isso afirmo com veemência que jamais deixarei de ser um homem livre: na rua ou atrás das grades! Porque é um problema de consciência e a minha está, como sempre esteve. E estará tranquila.

Aliás, atrevo-me a adaptar a frase de Gandhi nela concluindo: existem homens inocentes atrás das grades e homens culpados que andam na rua. Mas aí não é apenas um problema de consciência. É um problema de Justiça ou falta dela.

Cresci até aos meus 71 anos completados hoje num meio de amor pela Liberdade pela Igualdade entre todos os homens de qualquer raça, cor, credo ou sexo. Aprendi os valores da Solidariedade e pus no altar supremo das minhas crenças a sacralidade da Justiça que é o ponto de encontro daqueles valores.

Assim formei-me com companheiros partilhantes dos mesmos valores e na minha galeria de heróis e meus leaders do pensamento revejo Gandhi (pela capacidade de sofrer com um sorriso todas as injustiças e sem uma única palavra ou acção de violência); Martin Luther King pela sua capacidade de sonhar a igualdade e liberdade de todos sacrificando a vida por essa utopia que a sua luta transformou em realidade; Papa João XXIII pela visão ecuménica da Igreja e do mundo, infelizmente não continuada; Jesus Cristo como exemplo da injustiça dos homens à qual não se vergou preferindo a morte à confissão de qualquer crime que não cometeu; Galileu Galilei que enfrentou a Inquisição que o acusou de heresia mas que acabou por ver reconhecida a força da sua razão e cuja frase “E no entanto ela move-se” eu recordo muitas vezes; Nelson Mandela pela suprema lição de resistência, pela capacidade de manter a lucidez pela dignidade de saber perdoar para e levar os seus compatriotas a perdoarem um passado para construírem o futuro de uma Nação.

Mais vultos povoam a minha galeria e que me ensinaram a ser Homem e cidadão. Seres superiores cujas pegadas são os meus exemplos mesmo quando não me sinto à altura deles. Aqui ficam estes que são para mim talvez os mais significativos.

Amigos... E outros:

Quando a razão da força se impõe à força da razão as consequências são sempre injustas; quando a manipulação através da mentira se impõe à razão pura da Verdade há uma total inversão de valores com consequências imprevisíveis mas sempre perversas.

Mas também é verdade que “o tempo descobre sempre a Verdade” como disse Bernini. Mas acrescentou: “nem sempre a tempo”. Acrescento eu: “é sempre tempo seja quando for”. Porque a Verdade é imutável. Nada a pode alterar e por isso mesmo é Verdade. Pode ser ferida, distorcida, atraiçoada durante muito tempo. Mas não para sempre.

Uma palavra final:

Não sou mártir nem herói. Sou apenas vítima. Até à chegada da Verdade. Não tenho ódios, não quero vingança. Só quero a Verdade e Justiça.

Aos meus amigos aqui fica o eterno agradecimento pelo que têm feito, pelo apoio que me têm dado; aos indecisos sugiro que se informem (e já dispõem de muitas fontes para o fazer). E fiquem tranquilos: dói ser injustiçado e condenado por crimes não cometidos. Mas suporto a dor na companhia da minha consciência limpa e da minha liberdade de pensamento. O sofrimento é pela minha família a que a minha filha Marta tão bem chamou no seu livro “As Outras Vítimas”. Mas felizmente que também, na família, encontro uma força inabalável que lhes advém da Verdade. Como força encontro nos amigos. Reais ou virtuais mas que nunca me abandonaram.

24 de Março 2013

PS- para recolha de informação e pensar pela própria cabeça sugiro lerem com atenção o meu site (www.processocarloscruz.com), o meu livro “Inocente para além de qualquer dúvida” que ainda pode encomendar à FNAC ou à editora Vogais; o blog “crónicasdoprocesso.blogspot.pt” ou então o próprio processo que é público embora não tenha as transcrições do áudio das audiências (que pode ver no meu site).

Aconselho ainda ver o filme “Presumé Coupable” (Presumível Culpado), sobre o Caso Outreau que podem encontrar na Net com alguma paciência e o filme “A Caça” que está ainda exibição nos cinemas do El Corte Inglês e que é lançado pela Amazon amanhã dia 25 com legendas em inglês; o filme é Dinamarquês e tem o título original “Jagten” e está nas buscas do Google.

PS-2- Para quem não acredita em erros judiciários também aconselho o file “O Furacão” com Denzel Washigton ou “True Crime” com Clint Eastwood. Ou ver a notícia aqui postada por minha filha da senhora americana que esteve no corredor da morte durante 22 anos à espera de ser executada sendo agora absolvida porque se descobriu que o detective da polícia que investigou o caso mentiu em tribunal. Era acusada de ter morto o filho.

Finalmente informem-se sobre o “The Innocence Project “ (www.innocenceproject.org) e vejam quantos condenados (alguns depois de executados) foram inocentados.

PS-3 – As minhas páginas no Facebook mantêm-se abertas. Alguém de minha inteira confiança me irá dando notícias do seu comportamento e tem a minha autorização para aceitar ou rejeitar amigos porque estará em contacto comigo. Naturalmente não poderei responder.”


Por isso , um dia (e porque sempre segui a minha intuição) que seja preciso mostrar a Carlos Cruz que ainda há quem acredite no outro lado da história, eu irei bater palmas para que me ouça. E acredito, que nesse dia, a inocência virá à baila.

Beijinhos de silêncio****

26 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto, Vânia. Parabéns!
    Eu também acredito na inocência de Carlos Cruz, bem como na dos restantes condenados. Por uma simples razão: as vítimas (se os são de facto) porque não dão a cara? Não me venham falar em vergonha, nem em intimidade, nem em receio da opinião pública.
    Tudo isso não é nada, em função do sofrimento provocado nos que de facto são abusados sexualmente. E, asseguro, sei do que falo.

    Um abraço,
    Vânia Batista

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  2. Ah! É verdade.
    Também li a carta hoje de manhã.
    Comecei o dia lavada em lágrimas ... também cresci a ver o Carlos Cruz na TV e comovi-me imenso ao ler a carta, enquadrando-me eu no campo dos "amigos virtuais".

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  3. Conheço o Carlos há muitos anos.
    Cruzei-me com ele nos corredores da Rádio Comercial, quando o 'Pão com Menteiga' era emitido.
    O Carlos sempre foi um predestinado para o fenómeno da comunicação social.
    O que conheço dele, dentro e fora da rádio, leva-me a dizer, claramente, que não acredito que seja pedófilo.
    E vou mais longe. Às tristes e patéticas pessoas que o acusam - e refiro-me ao povo anónimo que lhe aponta o dedo - pergunto: viviam com ele 24 sobre 24 horas? Dormiam com ele? Faziam vida com ele?

    Perguntar-me-ão o que me leva a acreditar nele. Respondo com a maior facilidade e tranquilidade. Porque o Carlos pode ser acusado de muita coisa, mulherengo, amante do bom whisky. Não pode é ser acusado de pedofilia.
    Porque isso não faz parte do ADN dele.

    Também conheço a Marluce, primeira mulher dele e, por isso, afirmo que se o Carlos tivesse algo a ver com a pedofilia, jamais Marluce levantava um dedo em sua defesa. Mas não, bem pelo contrário, a Marluce mantém-se ao lado do Carlos.

    O Carlos fez anos ontem, dia 24. Foram 71 anos. Tem a vida estragada, pessoal e profissionalmente, por causa de uma dúzia de energúmenos que resolveram traçar a destruição do Carlos.
    Precisavam uma figura mediática.

    Coitados dos juízes! Pessoas de valor menor que se deixaram envolver numa teia bem concebida e melhor conseguida.

    O Carlos está inocente mas, por causa da injustiça da nossa Justiça, tem a vida anulada. Ele e a família. E alguns AMIGOS sofrem com isto tudo.

    Alonguei-me, peço desculpa.

    Obrigado, Vânia, por teres a coragem de puxar este assunto para a blogosfera e de uma forma decente.

    Beijoca

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  4. Informa o 'Expresso' on line, hoje:

    Os arguidos envolvidos no caso Casa Pia foram hoje absolvidos no processo de Elvas, que foi julgado à parte, graças às dúvidas lançadas por uma testemunha.
    As declarações da testemunha Ilídio Marques, que lançou a dúvida quanto às datas em que os crimes foram cometidos, se no final de 1999 ou no inicio de 2000. acabaram por contribuir para a absolvição de todos os arguidos do Casa Pia no processo de Elvas.
    No caso de Carlos Cruz, foi dado como provado que a vítima tinha 14 anos, na altura dos factos, e o crime era de atos homossexuais com adolescentes, mas como, entretanto, o crime deixou de existir, a situação foi discriminalizada, e este acabou por ser absolvido.
    Sandra Aguiar, advogada do antigo apresentador de TV, disse à saída da leitura do acórdão que já avisara o seu cliente "e dentro de alguma contenção, porque vai ser preso dentro de dias, Carlos Cruz ficou satisfeito".

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  5. Pois, cada um tem direito à sua opinião, como é evidente. Eu penso que, precisamente por ser quem é, é que este caso foi todo tratado com pinças e só foi condenado por ser culpado. Ele não é propriamente a Leonor Cipriano, a quem deram uma sova e condenaram sem provas...
    Beijinhos, boa semana!

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    1. Beijinhos, boa semana para ti também!!!

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    2. Que dedução interessante, Gata.
      Também você tem direito a uma opinião mas que tal usá-la com base no que conhece e não no que diz que disse?

      Obrigado

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  6. Sempre gostei dele com apresentador. É um comunicador como poucos. Fiquei muito surpreendida e desiludida quando ouvi as notícias sobre ele. E agora não sei o que pensar, mas custa-me a acreditar que seja inocente.

    Tens um miminho no meu blog. :)

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    1. Já vi, tenho de pôr em prática!

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    2. Lilipat2008, permite-me perguntar o que conhece do Carlos?

      Guie o seu pensamento por si e não pelo que dizem.

      Obrigado

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  7. Pois não é fácil mas também tenho dúvidas que seja culpado, pode ser ingenuidade ou sentimento de proximidade mas é o que sinto. bjs

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  8. Este caso dá muito que pensar e quero acreditar que não é possível manter uma mentira durante tanto tempo.

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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    1. O pior, é que uma mentira dita muito tempo e várias vezes, torna-se aos olhos de muitos, uma verdade absoluta.

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    2. Ausente do tue blog, homem sem blog, e encontro-te aqui e partilho a mesma opinião... custa-me acreditar que é verdade pelos mesmo motivos que a Vânia mencionou, mas por outro lado custa-me acreditar que a mentira dure tanto tempo... e aind amais num caso como este em que todas as investigações são feitas ao detalhe e têm o peso que têm por ser quem é... mas a verdade é que neste tema, me sinto algures perdida entre a verdade e a mentira....:S

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    3. Se te coloca em dúvida...é porque vês um brilho que seja de verdade também.

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  9. A mentira dura o tempo necessário, até se tornar numa verdade, que pode não ser a verdade da maioria.
    Sou do tempo, em que sempre precisei de ver para crer e perante a forma como tudo se desenrolou, a minha admiração por esse senhor continua.
    Sim eu continuo a acreditar que a "verdade" ou a "mentira" pode ser deturpada, manipulada, etc.
    Continuo a acreditar na sua inocência, não por ingenuidade, mas sim pela admiração que sempre nutri por esse senhor que entrava pelo ecrã da minha casa.

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  10. Mais uma vez a comunicação social deturpou a sentença do processo da Casa de Elvas fazendo crer que a absolvição se deveu apenas a uma mudança de datas mas é mentira. Quem estiver interessado leia o acórdão e já agora o post que o CC fez ontem na pagina do FB. Não há alteração de datas simplesmente porque não se provou que o crime ocorreu e não se provou porque não foi cometido crime nenhum. O Ilidio Marques vitima neste processo contou que tinha mentido assim como todos os outros em troca de dinheiro que lhes foi prometido e pago. Todos os arguidos do processo Casa Pia são inocentes, não há provas das acusações e foram condenados pela "ressonância da verdade" figura jurídica que não existe mas que é a que consta da sentença e a pena a que o CC foi condenado não lhe permitiu recorrer ao supremo tribunal onde com certeza seria também absolvido pois as vitimas são as mesmas que o acusam no processo da casa de Elvas.

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    1. Isso da Comunicação Social também dá pano para mangas...haveria tanto a dizer sobre isso!!!

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  11. As afirmações que o Expresso publicou revela a incompetência que reina no jornalismo português que está nas mãos de estagiários, baratos, que saiem dos cursos da Lusófona. Assim:Ilidio Marques não tem nada a ver com Carlos Cruz e sim com Hugo Marçal. O Acordão não fala em mudança de datas mas diz que "se poderia imaginar" (já chegámos à imaginação depois da ressonância da verdade) que tudo se poderia ter passado no ano seguinte "o que não condiz com o registo escolar do assistente". Mesmo assim não seria crime. Isto é: CC acusado de um crime em 1999 foi absolvido mas poderiamos imaginar que ele teria cometido um "não crime" em 2000.Ora porra! Não é pedófilo mas poderiamos imaginar que é homossexual. E se fossem dar uma volta ao bilhar grande? Não há pachorra para tanta burrice. Poderiamos imaginar que existe uma réstea de inteligência. Mas não é fácil!

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