segunda-feira, 30 de março de 2015

Um ano.

Há um ano que não chorava por ti. Emocionei-me muitas vezes. Falei contigo e tive discursos unilaterais, em alturas mais confusas em mim, mas chorar mesmo como agora, chorar como quis chorar ao longo do dia e como o fiz enquanto vim para casa...há um ano que não o fazia. Morreste-me da forma mais doce que existe...sem dor. Nunca me doeu teres ido embora. Pode chocar isto, mas nunca me magoaste por teres ido nessa viagem onde ninguém sabe como estás, mas onde eu sei que estás bem melhor. Este dia andava em mim há meses e acho que só tu sabes que os últimos dias foram a conta gotas. Logo eu que achei que tinha exorcizado tudo...mas a saudade nunca se cura, pois não? Guarda-se. Respira-se. Está em nós.
Ao longo deste ano, tanta coisa mudou e eu nem te pude contar. Sei que metade não ouvirias ou não perceberias, porque a tua cabeça já não permitiria, mas sabia que olharias para mim como eu desejo sempre que me olhem: sem cobrar e sem criticar.
A minha vida mudou muito, sabias? Não sei como consegui atingir tanta coisa, mas sei que me passarias a mão na cara, chamar-me-ias de Nocas e ficarias à minha espera como sempre.
Tenho uma coisa para te contar: não regressei ao Porto. Fiquei por Lisboa e foi porque quis. O meu coração ainda é o mesmo e ainda ganha em todas as batalhas.
Tomei várias decisões. Algumas apertaram-me toda, outras tiveram que ser, outras libertaram-me. Conheci pessoas fabulosas, desiludi-me com muitas, aprendi a andar sem GPS, a perceber que há bebidas com álcool que até tolero e a ser mais eu. Ando no Teatro, já te tinha dito? Aquela esquizofrenia de personagens permite-me ser livre e eu preciso tanto disso.
Continuo chorona como tu e embora não tenha confessado a ninguém até ao momento deste post, é contigo que falo de todas as vezes que me sinto sozinha. E são algumas. Não fiques triste, faz parte. Também estou bem e feliz na maior parte das vezes. Tenho tido bons abraços, bons mimos e um batalhão de gente disposto a ir ao fim do mundo por mim. E não, não me admiro, porque sei que cultivo isso e lhes dou em dobro. Posso só pagar em sorrisos, mas sei que contam e muito.
Hoje, por exemplo, senti-me em família. Dei o meu melhor a todos com quem partilhei o meu dia, mas inevitavelmente o meu pensamento fugiu para ti. Senti-me cuidada ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche e ao jantar. Até comi um Calippo, lembras-te qual é?
Gostava de saber se desse lado também te sentes em família, se ouves o barulho da chuva ou se sentes o cheiro a café (tenho uma cafeteira parecida com a que tinhas, daquelas que faz café que espirra por todo o lado quando ferve e espalha o melhor aroma do mundo), se os prédios são altos ou se ainda te pões ao sol horas a fio, atrás de um vidro, mas só ouviria silêncio.
Esta é a segunda carta que nunca lerás e mesmo assim vale a pena.
Porque o amor vale sempre a pena. Pelos que estão, pelos que já não estão, pelos que vão estando.
E a saudade vale por si. Instala-se e fica. Estende-se. Espalha-se. Ferve de vez em quando.

Como hoje.

Se eu te disser que ainda estou a chorar, continuas a dizer que sou o amor da tua vida?
A tua Nocas, pelo menos, serei sempre.



quarta-feira, 25 de março de 2015

Olhar de dentro para fora.

"É no olhar, sobretudo, que a amizade se confirma. É no jeito de olhar que nos reconhecemos no primeiro momento, nós, amigos recentes de longas datas. Isso porque amigo tem esse olhar bom: ele nos olha como se realmente quisesse nos ver, sem nenhum outro interesse que não seja a oportunidade boa e rara de partilhar amizade. Ele nos vê e permanece ao nosso lado, esse conforto que palavra alguma é capaz de traduzir. Esse detalhe grandioso que faz toda a mágica acontecer, porque amar é também a arte de cuidar com os olhos."

Ana Jácomo

sábado, 21 de março de 2015

E se o Medo não fosse real?

O que faria eu, se não tivesse uma ponta que fosse, de Medo? Medo só pelo Medo. Só pela estranheza da palavra. Há sempre Medo de alguma coisa. De uma luz que não aparece, de uma frase que ainda não foi dita, da decisão que já sentimos que nasceu cá dentro. Todos nós temos Medo. Irracional, imprevisível, não traduzível em palavras. Não mostrado em afectos. Não sentido nos lábios. Todos nós já deixamos o coração colado ás costas. Já mordemos a língua para não dizer o que magoa. Todos nós já atiramos com as chaves para o meio do chão.
Tememos tudo como mortais, mas desejamos tudo como se fossemos imortais. E todos acreditamos facilmente naquilo que se teme e se deseja. Como se não valesse a pena nada que nos tire do sério, nada que não faça tremer. Tremer.É isso. O MEDO faz tremer.
E traz certezas também. Certezas do rumo a tomar no mais avesso dos dias. Nas noites em claro.
E se o Medo não fosse real? Teria eu olhar de menina em corpo de mulher? Pensaria tanto nas respostas que ás vezes procuro? Arriscaria tanta estrada na minha vida? Pararia de me questionar sobre o que já sei?
Entregaria os pontos, sem mais nada? Deixava-me estar, quieta, sem pensar em nada, deitada num abraço?
Se o Medo faz parte, porque inventaram a consciência? Porque pensamos duas vezes, se o Medo nos pode lixar à primeira?
Tenho Medo sim, tu que estás a ler também. E tu, e tu e tu também. Ás vezes mais do que um Medo. Mais do que uma vez.
E o mais estranho de tudo, é que espero tê-lo sempre. Só o Medo fala comigo quando penso em travar o que tem de ser feito. Só ele me empurra quando peço mais uns minutos.
No dia em que o Medo não se importar comigo, já cá não estou.

O que faria eu, se não tivesse uma ponta que fosse, de Medo? Medo só pelo Medo.
Sim, é isso...tenho Medo de saber.





quarta-feira, 18 de março de 2015

É por isso que gosto deste homem.

"Passaram 40 anos de um sonho chamado Abril.

E lembro-me do texto de Jorge de Sena…. Não quero morrer sem ver a cor da liberdade.
Passaram quatro décadas e de súbito os portugueses ficam a saber, em espanto, que são responsáveis de uma crise e que a têm que pagar…. civilizadamente, ordenadamente, no respeito das regras da democracia, com manifestações próprias das democracias e greves a que têm direito, mas demonstrando sempre o seu elevado espírito cívico, no sofrer e Calar.


Sou dos que acreditam na invenção desta crise.
Um “directório” algures decidiu que as classes médias estavam a viver acima da média. E de repente verificou-se que todos os países estão a dever dinheiro uns aos outros…. a dívida soberana entrou no nosso vocabulário e invadiu o dia a dia.

Serviu para despedir, cortar salários, regalias/direitos do chamado Estado Social e o valor do trabalho foi diminuído, embora um nosso ministro tenha dito decerto por lapso, que “o trabalho liberta”, frase escrita no portão de entrada de Auschwitz.
Parece que alguém anda à procura de uma solução que se espera não seja final.
Os homens nascem com direito à felicidade e não apenas à estrita e restrita sobrevivência.
Foi perante o espanto dos portugueses que os velhos ficaram com muito menos do seu contrato com o Estado que se comprometia devolver o investimento de uma vida de trabalho. Mas, daqui a 20 anos isto resolve-se.

Agora, os velhos atónitos, repartem o dinheiro entre os medicamentos e a comida.
E ainda tem que dar para ajudar os filhos e netos num exercício de gestão impossível.
A Igreja e tantas instituições de solidariedade fazem diariamente o milagre da multiplicação dos pães.

Morrem mais velhos em solidão, dão por eles pelo cheiro, os passes sociais impedem-nos de sair de casa, suicidam-se mais pessoas, mata-se mais dentro de casa, maridos, mulheres e filhos mancham-se de sangue , 5% dos sem abrigo têm cursos superiores, consta que há cursos superiores de geração espontânea, mas 81.000 licenciados estão desempregados.

Milhares de alunos saem das universidades porque não têm como pagar as propinas, enquanto que muitos desistem de estudar para procurar trabalho.
Há 200.000 novos emigrantes, e o filme “Gaiola Dourada” faz um milhão de espectadores.
Há terras do interior, sem centro de saúde, sem correios e sem finanças, e os festivais de verão estão cheios com bilhetes de centenas de euros.
Há carros topo de gama para sortear e auto-estradas desertas. Na televisão a gente vê gente a fazer sexo explícito e explicitamente a revelar histórias de vida que exaltam a boçalidade.

Há 50.000 trabalhadores rurais que abandonaram os campos, mas há as grandes vitórias da venda de dívida pública a taxas muito mais altas do que outros países intervencionados.

Há romances de ajustes de contas entre políticos e ex-políticos, mas tudo vai acabar em bem…estar para ambas as partes.

Aumentam as mortes por problemas respiratórios consequência de carências alimentares e higiénicas, há enfermeiros a partir entre lágrimas para Inglaterra e Alemanha para ganharem muito mais do que 3 euros à hora, há o romance do senhor Hollande e o enredo do senhor Obama que tudo tem feito para que o SNS americano seja mesmo para todos os americanos. Também ele tem um sonho…

Há a privatização de empresas portuguesas altamente lucrativas e outras que virão a ser lucrativas. Se são e podem vir a ser, porque é que se vendem?
E há a saída à irlandesa quando eu preferia uma…à francesa.
Há muita gente a opinar, alguns escondidos com o rabo de fora.

E aprendemos neologismos como “inconseguimento” e “irrevogável” que quer dizer exactamente o contrário do que está escrito no dicionário.

Mas há os penalties escalpelizados na TV em câmara lenta, muito lenta e muito discutidos, e muita conversa, muita conversa e nós, distraídos.

E agora, já quase todos sabemos que existiu um pintor chamado Miró, nem que seja por via bancária. Surrealista…

Mas há os meninos que têm que ir à escola nas férias para ter pequeno- almoço e almoço.
E as mães que vão ao banco…. alimentar contra a fome , envergonhadamente , matar a fome dos seus meninos.

É por estes meninos com a esperança de dias melhores prometidos para daqui a 20 anos, pelos velhos sem mais 20 anos de esperança de vida e pelos quarentões com a desconfiança de que não mudarão de vida, que eu não quero morrer sem ver a cor de uma nova liberdade."

- Júlio Isidro







domingo, 15 de março de 2015

Família.

Já cá não venho há uma semana. Já cá não repouso o meu corpo há 8 dias seguidos. Estive a tentar perceber o que é isso de nos sentirmos em casa ou em família. Estive a receber mais do que aquilo que achei que dei. Estive a aprender ou apenas a lembrar-me que estar com quem gosto é simplesmente ir a um lugar dentro de nós.
Estar com quem nos quer bem, haja o que houver, faça ou ande eu por onde andar, é algo precioso. É um gostar daqui até ao lado mais escuro da lua. Com todo o brilho do sol. Com o brilho de todas as estrelas juntas. Daquele céu que me viu fazer 33 anos, no passado dia 11. Com a força da gravidade aumentada. Por todos os cantos do céu. Com Lisboa lá ao fundo, a beijar-me em silêncio.
Acho que é assim que eu sou feita, de uma uma forma aluada. Mas inteira, genuína. Sem filtros. Rio-me de forma estridente ou parva, mas rio-me á séria. Porque não travo e porque rir é tão forte e tão verdade como chorar.
E quem me conhece, só pode esperar isso.
Durante esta semana de ausência, tive demonstrações de afectos que mesmo que eu viva 100 anos, não irei esquecer.
Trocar turnos para poder estar lá, onde é preciso. Combinarem boleias em cima da hora, em dias cheios de cansaço e mesmo assim esticarem a corda para poderem lá estar, onde é preciso. Um chocolate que chega na altura certa. O chá que não falha.
Um flor quase murcha, guardada num bolso de umas calças de ganga, que era "para a Mânia". Saber que "não estás velha Vânia, estás tu", não tem preço nem nunca terá.
Aquela mão em nós, as selfies desmedidas e inusitadas. Perceber que afinal consigo beber álcool, tenho é de ser educada para isso. Rir-me de mim própria, convencer-me que o sono é a única coisa que não me deixa dizer "Coca Cola".
Saber que passe os anos que passar, não importa o sítio onde estamos. Importa sim, o amor que nos espera. O telefone que toca à meia noite. Pequenos almoços flashes, almoços com direito a brinde porque um brinde dura só o tempo de um sorriso, certo? Amigos que nos roubam e nos mimam como só eles sabem fazer.
Família que se organiza com bolos, bolinhos e bolões, que fazem trinta por uma linha só para que o coração permaneça quente por mais um pouco.
E permanece.

Obrigada, infinitamente obrigada, por me mostrarem que também se ama no improviso e que há sempre alguém que me espera.
Entrei nos 33 da melhor forma possível e serei eternamente grata por isso.

Porque Família é um conceito onde cabe muita gente. Família é um lugar dentro de nós. E chega.

sábado, 7 de março de 2015

Só o Amor.

Só Amor cura. Só o amor vale a pena todas as lágrimas, todas as noites mal dormidas, todas as quedas. Só amor nos espera. Só o Amor nos vira do avesso, nos mostra o segundo infinito...porque existe sempre.
Só o Amor nos faz engolir em seco. Só o amor nos encosta à parede. Nos faz atravessar pontes. Só o Amor acorda em sobressalto. Só o Amor nos adormece em quente.
Desenganem-se os que acham que o dinheiro e o poder comandam o mundo. Deixai-os pensar que sim. Que o Amor é piroso e desnecessário, que não enche bolsos nem depósitos de gasolina. Não faz truques de magia. Pois não, não faz. Porque não é preciso.
Só o Amor magoa em grande. Não magoa mais ou menos, magoa à séria. Porque tudo o que vale a pena e é forte, tem dois lados. Magoa pelo que foi, pelo que nunca chegou a ser e pelo que ainda está longe. Só o Amor nos faz pensar duas vezes. Só o Amor nos arruma a vida. Em prateleiras sem rótulos e desordenadas. Com roupas misturadas e a verem-se.
Só o Amor é a soma dos medos. Só o Amor amassa tudo ao mesmo tempo. Só o Amor sabe o quanto somos parvos. Só o Amor nos liberta. Só ele nos deixa ser livres. Só o Amor estraga travões. Não os arranca...tira-lhes força.
Só o Amor é capaz. Só o Amor faz errar uma, duas vezes. Errar ainda melhor que a última vez.
Só o Amor.


sexta-feira, 6 de março de 2015

quarta-feira, 4 de março de 2015

Lua Cheia.

Numa altura em que me sinto mais carregada de tudo, pessoal e profissionalmente, percebo que felizmente...ainda somos para os outros, aquilo que pretendemos ser. Ainda somos olhados da forma que desejamos e que tantas vezes achamos impossivel de mostrar.
Num dia pouco famoso para mim, numa fase em que se avizinha muito empenho profissional e que me preparo para mais um aniversário longe do meu habitat natural, percebi que o amor que colocamos nas coisas e o esforço pessoal com que derrotamos, muitas vezes,um leão por dia...pode ser tudo para alguém.
Durante mais uma dia de trabalho, passou-se isto:

"Maria, o que é que estás a dizer que a Vânia é?!"
- "Uma Lua que brilha!"
"Porquê uma Lua?"
- "Porque os teus olhos estão sempre a brilhar".

Escusado será dizer que ganhei o dia.
Mais tarde, perguntaram-me que Lua poderia eu ser: Quarto Crescente, Minguante, Nova, Cheia... a ser mesmo uma Lua, só poderia ser Cheia. Porque tal como ela, percebi que a vontade de ser sempre melhor que ontem, se reflecte por inteiro na Terra à volta.