quarta-feira, 5 de março de 2014

As palavras que espero nunca dizer a ninguém.

Olá silenciosos, confesso que vinha cheia de pedalada para pedir desculpa por esta minha pequena ausência (dias cheios, apenas!), para saudar o sol que decidiu aparecer, para reclamar das pessoas fofinhas que decidem pagar água-luz-internet-mosquitos-cabelos-alhos-bogalhos-e-mais-tudo-o-que-se-lembrem na caixa multibanco, mas ao olhar para as notícias vi isto. E engoli em seco. Senti-me pequenina, invisível quase. Relembrei o ano em que vi a primeira notícia do Rui Pedro. Da mãe, sem alma já, sem expressão no olhar. Relembrei o caso que mais me traumatizou, aquele que todos conhecemos.
Fez ontem 16 anos que desapareceu, uma vida que de tão partida em bocados, se faz inteira.
Se ele ainda existir, esteja onde estiver, que leia o que lhe deixaram. Que perceba que já não é só a mãe que o espera. É um país inteiro, que por mais frio que pareça com os seus e por mais preocupado que pareça com Maddies e afins, não se esquece de quem lhe pertence.


“Carta de uma mãe ao filho desaparecido.
Meu filho, faz amanhã 16 anos que não te vejo, e depois deste tempo todo ainda espero por ti! Espero e esperarei até que me digam algo de ti! Este tempo todo imagino-te crescendo, tornando-te um homem,e eu aqui parada no tempo, á tua espera! Nunca deixarei de te esperar!!! De uma forma ou de outra, os dias sucedem-se, muitos Já partiram, outros nasceram e cresceram enquanto estiveste fora...outros vão nascer breve, sabias? Há tanta coisa para te dizer, tantas promessas a cumprir que não vão chegar o resto dos meus dias para os realizar...volta, estamos aqui todos á tua espera...tal como naquele fatídico dia 4/03/1998...Se não quiseres falar basta um abraço, tu sabes dar tão bem abraços! e beijos pequeninos...bem sei que estás crescido, mas a mim não vais negar?! Tenho tentado tudo para suportar a tua ausência...tudo mesmo!!! Ás vezes digo a mim própria que é um pesadelo e que vou acordar a qualquer momento e tu estás aqui...depois abro os olhos e a realidade atordoa-me os sentidos! NÃO ESTÁS! e não posso fazer nada!!!!
Sabes, já nem rezo, olho para o vazio e mentalmente pergunto por ti?! Já nem sei quem sou, ou no que me tornei!!!Um fardo para uns...uma lunática para outros! Dizem que sou forte?! Quando eu sou tão frágil...imagina a tua irmã o que tem de suportar?! E ser a filha mais maravilhosa que alguém poderia ter! Porque é nisso que ela se tornou Pedro, num ser humano espantoso! Tens de ter orgulho nela! Vês filho, o que tenho para te dizer não chega uma carta...Como faço para comunicar contigo? A tua irmã está á distancia de um telefonema, basta-me saber que está bem! contigo faria igual, só quero que sejam felizes! É pedir muito filho?
Quando puderes juras que me respondes? Eu continuo aqui à espera..
Um Abraço do tamanho do mundo, da tua mãe que te adora e não sabe o que fazer sem ti?!
P.s. Estou a escrever-te do teu quarto, o pai acabou de entrar, ele trabalha muito, e sente muito também a tua falta, só não sabemos como te dizer!? Daí a carta, desculpa se é muito longa, mas juro que se tu vieres eu não te canso! Eu calo-me e basta-me o teu olhar no meu.
Adoro-te! Mãe”,


e é isto.

10 comentários:

  1. Perante isto todos os problemas de que nos queixamos deixam de ter o mesmo impacto. Não há palavras para descrever o que se sente quando se olha para os olhos da Filomena. Dor sem fim, desespero, esperança, perda dela, tantos, tantos sentimentos que fazem com que ela morra aos poucos e por eles viva desesperadamente!

    ResponderEliminar
  2. Perante isto...ficamos reduzidos a nada! Eu preocupo-me com quê?!...Já nem sei, nem me interessa!

    Não conheço dor maior.
    Gostava de um dia a abraçar, tenho uma admiração profunda por esta Mãe.

    Jinhooooosssssss

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não conheces e nem deve existir mesmo dor maior!!!
      Grande mulher, grande luta :(

      Eliminar
  3. Já com saudades de te ler por aqui foi com lagrimas nos olhos que fiquei depois de ler esta carta, as palavras de uma mãe que tu trouxeste até nós... Simples e tão profundas... Tocam a alma...
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tive mesmo de partilhar, acho que a esperança eterna que esta mãe nos passa, é algo único!!!

      Eliminar