quarta-feira, 13 de maio de 2015

Carta aberta à Asma.

Sei que não te conheci num café ou num encontro de amigos. Lembro-me bem que não te convidei sequer para entrares na minha vida.
Por simpatia, demorei tempo demais a fechar-te a porta e por teimosia, achei que te convenceria a partir. Ainda hoje sou crédula em tanta coisa!
Há 6 anos tivemos um encontro imediato, numa Sala de espera de um Hospital em que tive tempo para fazer todas as perguntas que queria. Dizem que és Crónica. Pois bem, eu sou Crónica e meia porque tenho um dom especial para bater sempre na mesma tecla. Continuo crédula, crente demais para me convencer que não te consigo dar a volta.
Já alguma vez te disse tudo o que me foste tirando e dando em proporções tão ingratas? Hoje tenho lata suficiente para te dizer que nunca gostei de ti. Tu tens, ao longo dos anos, tido mais apreço por mim. Atreves-te a ir comigo para o trabalho, a mexer com os meus movimentos. E dormes tantas vezes comigo. Fecho tudo, fecho até o coração mas tu não me abandonas. Já te pedi quase sufocada, já te pedi a chorar, já te pedi em voz alta e enquanto sonhava: por favor, desiste de mim. Como desististe naquela noite em Janeiro, que só tu e eu sabemos, que nem por ser 5h da manhã te foste embora. Lembras-te quando me sentei no chão, sem força para mais nada? Como te tentei combater com a dita da bomba e tu foste mais forte? Venceste-me pelo cansaço e eu adormeci em cima de ti. Deixaste-me ali, exausta e recuperar sabe-se lá o quê.
Só quem te tem ou quem te viu já, sabe a luta que é.
Hoje estou estável e torço todos os dias para que não te lembres que algum dia te deixei entrar. Se voltares, tens uma chá de gengibre em cima da mesa, daqueles que picam mas que te mantém entretida a uns metros daqui.
Não penses que estou sozinha. Tenho toda uma brigada a combater ao meu lado. Sabes porquê?
Não, não sabes nem nunca irás saber. Como sei que te estás a cagar para todas as vezes que senti o coração a saltar pela boca, a tosse a puxar-me as lágrimas e de todas as vezes que parei o carro por tua causa. De todas as vezes que disfarcei estar mal para não se assustarem, de todas as gargalhadas deixadas a meio e de todas as vezes que miúdos de quatro anos me perguntaram se me doía o peito.

Minha querida Asma, o Mundo é redondo. Gira. E eu sei que te voltarei a ver. Aí, tem cuidado comigo.
Porque nada pára uma grande decisão. E eu decidi ser feliz.


13 comentários:

  1. Amiga, eu poderia escrever algo parecido. Só o final seria diferente. Fui internado por causa da asma duas semanas depois de ter nascido. Durante anos habituei-me às injecções, às consultas... a tanta coisa. Tive muita sorte. Aos 16 anos ela pegou nas malas e desapareceu. Provavelmente foi fazer um cruzeiro às ilhas gregas, apaixonou-se e nunca mais apareceu. Espero que a tua também não regresse!
    Beijinhos (saudades!)

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    1. A sério Carpe? Não sabia que tínhamos isso em comum...
      A minha regressará certamente mas tenho tudo a postos! ;)
      Voltei siiiim :)

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    2. Fico feliz por teres voltado! :)

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  2. Deve ser um problema complicado! Felizmente não o tenho...Espero que o consigas colocar longe de ti!

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  3. Com e sobretudo sem asma é bom ter-te de volta ;)

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  4. :S São aquelas injustiças da vida que nos perguntamos ou tentamos sempre tentar perceber pelo menos, porquê???? :S Cresci não com ela, mas com um pai sempre de mão dada com a bomba... é incrivel como ainda hoje me recordo tão bem, dessas imagens, de ver na gaveta da mesinha de cabeceira dele sempre uma bomba guardada... felizmente passou, embora certas coisas o façam recorda esses tempos...Talvez por isso não consiga aceitar com tranquilidade e normalidade o usa de uma bomba do género para crianças aqui, já que 80% das crianças aqui sofre de "broncoespasmos"... e claro tocou à minha! Vê-la com dificuldade a respirar é das piores coisas... :( E talvez por isso, já consiga olhar para a bomba todos os dias agora no Outono / Inverno daqui, como modo preventivo... mas mesmo assim tenho uma relação amor/ódio perante ela!!! :S
    Gosto da tua atitude!! ;) Nada de baixar os braços! ;) Há coisas que não se vencem, porque é assim a vida, mas sim podemos aprender a viver com elas! ;)
    Já tinha saudades de te ler!:)
    Boas leituras!:)

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