segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guardiões das Ruas

Hoje não vou falar do que me irrita, se apanhei ou não trânsito. Não acho sequer que seja relevante, pelo menos por agora.
Não vou falar de programas, de vouchers espectaculares, de músicas ou restaurantes.
Vou falar de pessoas, que merecem toda a minha atenção, que me prendem os olhos e me empurram o coração para as costas, sempre que os vejo. Podiam ser meus avós, meus pais.
Há muito que lhes "devia" isto, para me sentir bem comigo, para fazer alguma justiça e algum reconhecimento a todas as pessoas que passam quase camufladas nas ruas.
Não falo dos Sem-Abrigo (embora a maior parte talvez o seja) nem dos arrumadores.
Falo de outros lutadores.


Nestes últimos dias, fui por duas vezes a Lisboa ao fim do dia.
Muita gente, muitos turistas.
A noite chegou e as esplanadas estavam a abarrotar.
Uma noite de Verão atrasado, aquele clima ideal para passear e apreciar tudo à volta. Ouviam-se gargalhadas e manifestações de amizade de pessoas que não se viam desde as férias.
Brindes, abraços!
Homens estátuas, pintados até ás orelhas, sem se mexerem e a fazerem graçolas quando a moeda caía na caixa.
E à volta, a meio da rua, no intervalo das esplanadas e em frente aos ditos jantares de amigos, havia sempre quem rematasse o clima com um violino, uma guitarra ou uma voz sem instrumental.
Ninguém olhava para eles. Cantavam, tocavam a ver os outros a comer, a viver.
Os que passavam a pé nem se aproximavam, ignoravam.
De vez em quando, o barulho de umas moedas a cair e a voz nunca falhava.
E eu olhava, olhava, engolia em seco.


Que vidas são estas? Há uma casa à espera deles? Um cama? Um sofá?
Se calhar nem um abraço.
Não me interessa que digam que o dinheiro é para a droga, que tem perninhas e saúde para mais. Será que têm?
E mesmo que tenham...não será preciso uma grande coragem para passar horas a animar os outros sem que nos olhem na cara ou agradeçam?
Por mais indigno que seja o percurso deles até ali, não deveriam ser admirados por se prestarem a isso?
Acho que sim. Acharei sempre que sim.

E naquelas noites, sei que se algum deles caísse de cansaço, eu ia levantá-los.
Para mim, são os Guardiões das ruas.
E mesmo que eles não saibam, eu também os guardo.
Num patamar onde o Respeito dura mais do que as horas que passam nas ruas.






18 comentários:

  1. São pessoas que lutam pela vida e pela sua sobrevivência e na maioria das vezes as pessoas andam tão atarefadas com a sua vida que nem um bocadinho para pensar: "E se fosse eu no lugar dele?".

    Beijinhos :)

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    1. Isso mesmo...é essa pergunta que faço vezes sem conta!
      Beijinhos

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  2. Fico expectante quanto ao futuro desta gente. Porque o presente tem algo que tenho dificuldade em perceber.

    Bjs

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  3. O respeito...esse valor maior a que todos têm direito e tantas vezes esquecido! O meu é deles também!

    jinhoooossss Amiga!

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  4. Que me perdoem se estiver a dizer alguma inverdade, mas as pessoas que mais rejeitam estes "artistas", que escolheram ou foram obrigados a escolher esta forma de subsistir, as que passam a vida a bater no peito e preferem continuar a enriquecer o Vaticano, deixando esmolas na caixinha da Igreja. e mais não digo!

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    1. Aleluiaaaa! O meu pai já consegue escrever aqui no blogue :)))
      Bem vindo papi!
      E sim, concordo contigo :)

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    2. Olá filhota! Eu tinha que conseguir. Comentar o que escreves é um acto que ultrapassa laços de sangue, que obviamente me enche de ORGULHO, mas para poder partilhar com os demais frequentadores da sala, que tu consegues estar em todas as dimensões. Denuncias e aplaudes grandes espectáculos, mas também tens olho de lince para os cenários mais "deprimentes" da sociedade dita moderna, e dar-lhes cor.
      Beijinhos

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    3. Desculpem-me a intromissão por favor, mas não podia deixar de vos dizer isto: Parabéns Sr. Joaquim ao pai que tem este tesouro de Filha!
      As lágrimas correm-me pelo rosto...muitas poucas são as filhas que podem sentir o Orgulho de partilhar este espaço com o Pai?!
      Parabéns aos dois!

      Jinhoooosssss

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    4. Sou uma privilegiada, sem dúvida!!!
      Beijinhos amiga***

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  5. Os artistas de rua nunca são valorizados e muitas vezes são bem melhores que os artistas que editam cds. Todo o respeito por eles.
    beijinho

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  6. Partilho do teu respeito por todas estas pessoas.
    E tens razão. Já dei por mim a pensar no que será a vida destas pessoas... terão um tecto, terão com quem falar? Terão algo para comer que os reconforte depois de um dia nas ruas?
    São perguntas e perguntas para as quais não tenho respostas. Quanto a mim, revejo-me em tudo o que dizes e tiro-lhes o chapéu pela alegria que distribuem pelas ruas!
    Bjs

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    1. Só alguns têm a sorte de ser reconhecidos...
      É uma pena :(
      Beijinhos

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  7. Ando sem tempo, mas felizmente arranjei um bocadinho para ler este teu post!!;) Gostei muito e tens muita razão no que dizes! :) Seja para onde for o dinheiro, ao menos não o roubam, tentam trocar por arte, a sua arte... e animar um pouco o nosso dia, tarde, noite... artistas de rua com talento esquecido!;)
    beijocas

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    1. Ops... não era com este, distrai-me... mas sabes quem sou!!;) lol Por falar neste "modo" ainda estou á espera de algo que me seja enviado....;)

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    2. Ahahahaha, tu és uma polivalente! ;)
      Tens toda a razão, mea culpa mea máxima culpa, mas ando a mil no trabalho e ainda não te pude enviar, com o devido carinho e atenção.
      Mas até Domingo "isso" segue viagem ok?
      Beijinhos

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