quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Somos da nossa Infância, como somos do nosso país...

...já dizia Antoine de Saint-Exupèry.
É uma identidade, um ADN que feliz ou infelizmente, está cá. Faz parte. Somos o que fomos. O que nos permitiram ser.
Quem não teve, pelo menos uma vez na vida, um olhar inocente sobre aquilo que hoje conseguimos complicar?
Quem não roubou o bâton à mãe e depois limpou a boca à toalha das mãos? Quem nunca se virou de frente para o chuveiro, a tentar apanhar a água com a língua? Quem nunca pediu um pão sem nada?
Quem não se lembra de colar os olhos no Tom Sawyer e da liberdade de andarmos descalços? Dos anúncios da OLÁ e da Coca Cola, que faziam sonhar com o que estava fora da porta?
De quando dávamos valor a um guarda chuva de chocolate e de como o mundo acabava quando o Vitinho nos mandava dormir.
Tantas vezes esfolamos. Tantas vezes nem ensaiamos entrar mar adentro. Era quem levasse tudo à frente!
Quem nunca foi mil vezes mais corajoso do que aquilo que é hoje em dia? Maldita consciência, que nos faz hesitar e perder tanta coisa.
Tive uma infância cheia, feliz. Sei bem o que é feirar no Senhor de Matosinhos, andar no Autocarro Louco com a minha mãe, até chorar de rir "E vaaaaai mais uma voltinhaaaaaaaa" e era a loucura. Ainda sei como cheiravam os dias. Os mesmos em que brincava na rua, à macaca ou ao elástico. E também sei a forma despreocupada em como não era boa em nada.
Fui menina das alianças por acaso, aprendi as horas sozinha, separava todos os fios que vinham na sopa mal passada...mas também sei a que sabe o algodão doce, as belas das farturas e sei o que é ter nas pernas as caminhadas de uma noite de São João.
Sei como é gritar "Goooooooooolooooooooooooooo" num daqueles momentos de tensão clubística.
Sei como é participar numa cascata e andar a pedir "esmolinhas" para o Santo António, mesmo quando este já tinha passado.
E o que eu sempre dancei em bailaricos!!! Aiiiiii como eu hoje ainda me perco com isso :)
Lembro-me da primeira vez que acreditei em mim e sem me aperceber já andava numa bicicleta sem rodinhas.
Coleccionei os cromos TOU do Bollycao, vibrei com os cds do Fido Dido, numa época em que o Twix se chamava Raider.

Na infância, o nosso olhar sobre as coisas é sem filtro, mas a esperança é muito maior. O que dizemos pode ser desmedido e da boca para fora, mas o que sentimos e a forma como gostamos, é mais real. Fresca como uma pastilha de mentol.





4 comentários:

  1. Gorila, uma pastilha gorila.
    Beijinho, mantém-te assim fresca!

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    1. Olá e bem vinda! Lembro-me tão bem dessas pastilhas Gorila :)))
      beijinhos***

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  2. Ai... um chocolate Raider, uma coca-cola, uns cromos do Bollycao, brincar na rua, correr de um lado para o outro, sorrisos ao alto, vida descomplicada! Infância muito feliz a minha e que revi neste texto fantástico, amiga!
    Beijinhos

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    1. Há alturas em que também faz bem voltar atrás no tempo :)
      beijinhos***

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